Filme do Dia: O Canto do Mar (1953), Alberto Cavalcanti
O Canto do Mar (Brasil, 1953).
Direção: Alberto Cavalcanti. Rot. Original: Hermilo Borba Filho, Alberto
Cavalcanti & José Mauro de Vasconcelos. Fotografia: Cyril Arapoff &
Paolo Reale. Música: Guerra Peixe. Montagem: José Cañizares. Com: Margarida
Cardoso, Aurora Duarte, Cacilda Lanuza, Alfredo de Oliveira, Ruy Saraiva,
Miriam Nunes, Glauce Bandeira, Débora Borba.
Família de
ex-retirantes vivendo em Recife, encontra-se em situação de desestruturação. O
pai é mentalmente instável. A mãe (Cardoso) procura liderar a família, mas
acaba testemunhando a entrada da filha no mundo da prostituição, mesmo com
todos os esforços que fizera para mantê-la afastada. O filho mais novo se encontra
gravemente enfermo e outro rouba uma venda para comprar a passagem de navio
para Santos e fugir com sua pretendente.
Quando imagina que o filho partiu, o pai se lança ao mar e morre afogado. Já o
filho desiste de partir quando descobre que sua jovem enamorada fugiu com outro
homem, de mais posses.
Trata-se de um
verdadeiro compósito de tragédias sucessivas elaboradas da construção do que
seria uma “realidade regional” a partir de uma perspectiva grandemente
folclórica, algo auxiliada pela interpretação dos atores, irregular e desigual
– não apenas de momento a momento, como entre eles, sendo Cardoso um destaque
positivo – na qual à figura feminina soçobra uma visão bastante negativa. A mãe
renega o pai, tenta reproduzir a própria lógica do sofrimento perante a filha,
que se rebela e pretende pagar o que o filho deve apenas como forma de mante-lo
próxima a si. A filha, preocupada apenas com vislumbres de riqueza, cede à
prostituição. A namoradinha do filho, demonstra que seu sofrimento mal escondia
sua dissimulação, ambiguidade e falsidade, apostando no primeiro que a
retirasse de lá. Enquanto para os personagens masculinos sobra a vitimização,
cuja principal raiz, aliás, encontra-se nas supracitadas figuras femininas. O
pai como paciente psiquiátrico incompreendido, a não ser pelo próprio filho. O
filho, vitimado por um amor não correspondido e pelo desejo de progresso e o
irmão morto ainda criança. É marcado por um longo prólogo que pouco acrescenta
à narrativa – pois se se pretendia demonstrar que a trajetória da família havia
sido anteriormente a mesma dos retirantes não necessitava tão longa
apresentação. Assim como pelos diversos momentos de aberta pieguice, sobretudo
do filho e da filha. Enquanto o filho choraminga próximo do pai, a filha tem
sua catarse no colo da madame de um cabaré.
Existem igualmente alguns planos preciosos de panorâmicas amplas do
Recife assim como mais particularizadas de seu casario. E até mesmo algumas
sequencias dramáticas eficientes, como a do velório da criança morta. Mais é
pouco em relação ao frágil conjunto que conta ainda com trechos de canções como
Maria do Mar, que é cantada para uma
então ainda pretensamente jovem figura, mas interpretada pela mesma Margarida
Cardoso, provocando mais um que de ridículo involuntário. Adaptação do próprio
filme de Cavalcanti do período mudo, En
Rade (1927). Provável que exista ecos mal digeridos de Visconti em todo o
projeto. Cinematográfica Maristela para
U.C.B. 124 minutos.
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