Filme do Dia: O Árido Verão (1964), Metin Erksan & David E. Durston

 


O Árido Verão (Susuz Yaz, Turquia, 1964). Direção: Metin Erksan & David E. Durston. Rot. Adaptado: Metin Erksan, Kemal Inci & Ismet Soydan, baseado no conto de Necati Cumali. Fotografia: Ali Ugur. Música: Manos Hatzidakis & Yamaci. Montagem: Stuart Gellman. Com: Erol Tas, Ulvi Dogan, Hülia Kocygit, Alaetin Altiok, Hakki Haktan, Zeki Tüney, Yayuz Yalinkliç.

Osman (Tas) é um ganancioso agricultor em um vilarejo que decide restringir a água do córrego que passa por sua propriedade apenas para consumo próprio. Seu irmão mais jovem, Hasan (Dogan), recém-casado com a bela Bahar (Kocygit), é menos intransigente. A atitude acaba provocando uma grande antipatia da comunidade e não tarde para que reações de repúdio ocorram e Hasan reage de forma ainda mais truculenta matando um dos agricultores. Ele consegue convencer o irmão a se dizer culpado por ele e, enquanto o irmão se encontra preso, acaba se tornando cada vez mais interessado na cunhada. Rasga todas as cartas enviadas pelo irmão e chega a divulgar que o irmão se encontra morto, tornando-se íntimo de sua viúva. Quando Hasan é solto, ele retorna para se vingar do irmão.

Tratando-se ou não, o que parece ser o caso, dado alguns cacoetes estilísticos e uma proximidade com temáticas vinculadas à sociedade, do que seria o equivalente ao cinema novo turco, esse filme parece bem aquém de seus contemporâneos, seja na Tchecoslováquia ou no Brasil. Em grande parte por conta da pouca sofisticação que trabalha seus personagens, algo que acaba se refletindo igualmente em sua eventual postura de crítica social – tudo acaba se reduzindo a uma relação entre irmão vil x irmão bom, não rendendo qualquer relação mais complexa possível. A vilania do irmão mais velho, vivido por um ator que se especializou em papéis do tipo e o vivendo com competência, assim como o irmão mais jovem e ao contrário da fraca interpretação da atriz principal, acaba se tornando por demais caricata, como quando sabe da possível morte do irmão na prisão e não possui qualquer reação emocional ao fato e nem mesmo procura tomar conhecimento; descontada a falta de verossimilitude da própria  ausência de um cadáver. Teria sido uma opção interessante se o filme tivesse assumido de fato a chave da fábula, o que não parece fazê-lo de todo. Mesmo que possua uma estupenda fotografia em preto&branco, recuperada juntamente com o som graças a uma iniciativa que contou com o apoio de Martin Scorsese e alguns magníficos planos em que trabalha com a relação entre extrema proximidade da câmera e relativa distância, já precocemente presentes em Cidadão Kane (1941) e reelaborados a exaustão pelo cinema contemporâneo, é um tipo de cinema certamente menos denso e mais palatável para um público mais amplo do que a maior parte do cinema moderno de então. Destaque para a cena na qual o irmão morto escorrega pela própria barragem que o cegara para quase tudo na vida (à exceção da mulher do irmão), que possui uma dimensão fabular bastante próxima, a seu modo, do especulador da bolsa que acaba acidentalmente soterrado em O Preço do Trigo (1909), de Griffith.  Urso de Ouro no Festival de Berlim, tornando-se o primeiro filme turco a ganhar reconhecimento internacional. 90 minutos.

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