Filme do Dia: A Vida e Paixão de Jesus Cristo (1905), Ferdinand Zecca & Lucien Nonguet
A Vida e Paixão de Jesus Cristo (La Vie et la Passion de Jésus Christ,
França, 1905). Direção: Ferdinand Zecca & Lucien Nonguet. Com: Madame
Moreau, Monsieur Moreau.
Esse filme do célebre realizador Zecca
consiste na ampliação de uma realização sua de três anos antes e é tido como o
filme mais longo que sobreviveu desse período. De fato, sua duração inusitada
para os padrões da época, quando a maior parte dos filmes não ia além dos 5
minutos é digna de nota. Zecca, que não introduz nenhum cartela representando
diálogo, dispõe antes das passagens mais célebres e visualmente chamativas da
trajetória de Jesus. Assim, revive-se desde o seu nascimento até sua trágica
morte, passando pela fuga do Egito e uma representação quase inédita de cenas
de sua infância, trabalhando com os pais ou pregando junto aos homens mais
velhos, assim como passagens famosas de sua vida adulta. Entre essas últimas o
encontro com Maria Madalena, a ressureição de Lázaro, o seu caminhar sobre as
ondas do mar, o milagre dos peixes, a última ceia, o beijo do Judas, a negação
de Pedro, a sentença de Poncio Pilatos, a via dolorosa até o monte onde será
crucificado, a ressureição e sua ascensão. O efeito espetacularizante, centrado
sobretudo nas sobreimpressões (utlizadas contemporaneamente como trucagem
sobretudo para acentuar seu efeitos mágicos na obra de Méliès) acentuado pelo
delicado trabalho de coloração sobre a própria película (que chega a
composições pictóricas de um amplo leque de cores de efeito perturbador, como
no momento da partida do Egito) convive com momentos visíveis de precariedade,
como a coluna que balança em diversos momentos da cena em que ocorre o
seqüestro e matança de todas as crianças do sexo masculino. Em boa medida, tal
opção pelo efeito espetacularizante acaba resultando também numa estética
repleta de elementos kitsch, como a
aparição dos anjos com seus halos que mais parecem rolos de filmes. O
repertório de Zecca é, no entanto, bem mais amplo que o de Méliès englobando
desde adaptações de clássicos da literatura universal, comédias de perseguição
(caso de La Course des Sergents de Ville),
temas bíblicos, dramas contemporâneos até filmes que destacavam o perigo do
álcool para a saúde e a pena capital. Destaque para as interpretações com
gestualidade bastante expressiva, para a predominância dos planos amplos
repletos de atores em movimento, mas igualmente da introdução de planos mais
fechados para destacar algumas situações mais relevantes e igualmente para
vários momentos em que a câmera realiza panorâmicas para destacar ações que
ocorrem em um contexto espacial contíguo, no momento em que os planos fixos
ainda eram predominantes. 44 minutos.
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