O Dicionário Biográfico de Cinema#280: William Powell
William Powell (1892-1984), n. Pittsburgh, Pensilvânia
Aqui Josef von Sternberg descreve suas negociações com Powell: "Como ator que retrata o diretor de cinema cruel e arrogante [em The Last Command [A Última Ordem], 28] escolhi William Powell que, com esta performance, para usar suas próprias palavras, foi forçado a se elevar na fileira dos intérpretes para se tornar uma estrela de brilho próprio. Reconheceu seu débito para comigo, ao especificar em um novo contrato que lhe foi oferecido, que nunca seria designado para qualquer de meus filmes novamente."
A parte amarga, talvez, e típica da sofisticação divertida que Powell projetava. Aposentou-se em 1955, tendo realizado noventa e quatro filmes, sob o risco de ser esquecido. Suas lustrosas comédias de adultério e decepção, mesmo a série Thin Man* estavam, então, estranhamente fora de moda. Powell expressa o cinema americano dos anos 30, bem melhor que alguns dos maiores nomes da era. Enquanto outras estrelas foram minadas pelo tempo, Powell permanece tão vívido e azedo quanto um coquetel deixado de lado momentaneamente para que se atenda um telefonema ou um Abdullah ainda ardendo, enquanto seu destruidor se envolve em um beijo condescendente. (William Powell poderia ser o santo padroeiro destes hábitos politicamente incorretos, mas muito cinematográficos - fumar e beber).
Powell começou nos palcos e trabalhou uns poucos anos em pequenos papéis, quando fez sua estreia cinematográfica em Sherlock Holmes (22, Albert Parker). No cinema silencioso, era vilanesco, traiçoeiro e desdenhoso, e não mais que um coadjuvante em, dentre outros: The Bright Shawl [O Chale Brilhante] (23, John S. Robertson); Under the Red Robe [Soldado e Sacerdote] (23, Alan Crosland); Romola (25, Henry King); Too Many Kisses (25, Paul Sloane); Faint Perfume [Perfumes do Passado] (25, Louis Gasnier); Aloma of the South Seas [A Conquista da Felicidade] (26, Maurice Tourneur); como Wilson em The Great Gatsby [O Grande Gatsby] (26, Herbert Brenon); Sea Horses [Nas Ondas Azuis da Incerteza] (26, Allan Dwan); Beau Geste (26, Brenon); Love's Greatest Mistake [O Grande Erro do Amor] (27, Edward Sutherland); um arábe desejando Bebe Daniels em She's a Sheik [A Neta do Xeique] (27, Clarence Badger).
The Last Command [A Última Ordem] foi um grande passo adiante - de fato, Powell trabalhou para Sternberg uma vez mais, em The Dragnet [O Super-Homem], mas foi o sonoro que realmente o estabeleceu. E é um comentário sobre as consequencias artísticas da inovação técnica que, sem alterar a persona cinematográfica, a articulação que torna Powell mais atraente - o nobre e bem educado canalha. Esteve no primeiro filme da Paramount completamente sonoro, Interference [Paixão Sem Freio] (29, Lothar Mendes e Roy Pomeroy), e foi então elencado como Philo Vance, um detetive, em The Canary Murder Case [O Drama de uma Noite] (29, Malcolm St. Clair). Após The Four Feathers [As Quatro Penas] (29, Merian Cooper, Ernest Schoedsack, e Mendes), Charming Sinners [Amar não é Pecado] (29, Robert Milton), e outro papel como Vance em The Greene Murder Case [A Casa do Crime] (29, Frank Tuttle), a Paramount o fez estrelar em Pointed Heels [O Perfeito Conquistador] (29, Edward Sutherland). Agora fazia equipe com Kay Francis em Behind the Make-Up [Por Detrás da Máscara] (30, Milton), Street of Chance [Caminhos da Sorte] (30, John Cromwell), e For the Defense [Defesa que Humilha] (30, Cromwell). Com sua futura esposa, Carole Lombard, acrescentou um toque cômico com Man of the World [Um Senhor Mundano] (31, Richard Wallace) e Ladies's Man [O Benzinho de Todas] (31, Mendes).
Powell foi então negociado para os Warners, juntamente com Kay Francis e Ruth Chatterton - significativamente, sendo o único dos três a desaprovar o contrato de longa duração da Paramount. Com os Warners realizou High Pressure (32, Mervin Le Roy); com Kay Francis em Jewel Robbery [Ladrão Romântico] (32, William Dieterle) e One Way Passage [A Única Solução] (32, Tay Garnett), um quintessência do lacrimogêneo: ele está indo para a cadeira elétrica, ela morrendo; e na RKO, Double Harness (33, Cromwell). Foi Philo Vance novamente no novo estúdio, em The Kennel Murder Case [O Caso de Hilda Lake] (33, Michael Curtiz), e para o mesmo diretor em The Key (34).
Mas os Warners o acharam demasiado caro e estava pronto para ir para a Columbia, quando Selznick e W.S. Van Dyke o chamaram para a MGM para realizar Manhattan Melodrama [Vencido Pela Lei], contracenando com Mirna Loy. A união foi perfeita: dois sofisticados esbeltos, sorrindo com arrogância um para o outro através de uma névoa de piadas. Eles não eram o Nick e Nora Charles que Dashiell Hammett tinha em mente, o que não os preveniu de realizarem um dos casamentos mais amados em The Thin Man [A Ceia dos Acusados] (34, Van Dyke). O estúdio os manteve juntos em Evelyn Prentice [Chantagem] (34, William K. Howard) e então Powell assumiu o controle: Star of Midnight [O Rapto da Meia Noite] (35, Stephen Roberts); Reckless [Tentação dos Outros] (35, Victor Fleming); o papel-título em The Great Ziegfeld [Ziegfeld, o Criador de Estrelas] (36, Leonard); The Ex-Mrs. Bradford [Madame Mistério] (36, Roberts); com Carole Lombard novamente em My Man Godfrey [Irene, a Teimosa] (36, La Cava), aonde sua inteligência foi quase shaviana (*); com Loy, Harlow e Tracy em Libeled Lady [Casado com Minha Noiva] (36, Jack Conway); e After the Thin Man [A Comédia dos Acusados] (36, Van Dyke).
Continuou com Joan Crawford em The Last of Mrs. Cheyney [A Última Conquista] (37, Richard Bolelavski), The Emperor's Candlesticks [Os Castiçais do Imperador] (37, George Fitzmaurice), e com Loy em Double Wedding [Amor em Duplicata] (37, Richard Thorpe). A doença significaria que nunca trabalharia arduamente outra vez: Another Thin Man [O Hotel dos Acusados] (39, Van Dyke); um papel duplo e pilar da sociedade - em I Love You Again [Nem Só os Pombos Arrulham] (40, Van Dyke); Love Crazy [Meu Querido Maluco] (41, Conway); Shadow of the Thin Man [A Sombra dos Acusados] (41, Van Dyke); Crossroads [Sua Excia. o Réu] (42, Conway); The Heavenly Body [Um Rival nas Alturas] (44, Alexander Hall); The Thin Man Goes Home [O Regresso Daquele Homem] (44, Thorpe); como Ziegfeld no céu introduzindo os atos das celebridades em Ziegfeld Follies (46, Vincente Minnelli); The Hoodlum Saint [Ouro no Barro] (46, Norman Taurog); e Song of the Thin Man [A Canção dos Acusados] (47, Edward Buzzell).
Foi então para os Warners e para Michael Curtiz para Life with Father [Nossa Vida com Papai], uma deliciosa perfomance cômica. Infelizmente, sua carreira sofreu algum relaxamento. Trabalhou para a Universal International: The Senator Was Indiscreet [Senador Indiscreto] (47, George F. Kaufman); Mr. Peabody and the Mermaid [Ele e a Sereia] (48, Irving Pichel); Take One False Step [Um Passo em Falso] (47, Chester Erskine); The Treasure of Lost Canyon [O Tesouro Perdido] (51, Ted Tetzlaff); com Elizabeth Taylor em The Girl Who Had Everything [A Jovem que Tinha Tudo] (53, Thorpe); e finalizou com duas respeitáveis despedidas - em How to Marry a Millionaire [Como Agarrar um Milionário] (53, Jean Negulesco), e como o doutor em Mister Roberts (55, Mervin LeRoy e John Ford).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2113-2115.
(*)N. do E.: série de filmes nos quais surge a expressão thin man no título original, com pelo menos três filmes.
(*) N. do E: diz respeito a um alfabeto elaborado para proporcionar uma ortografia fonêmica e simples para a língua inglesa. v. https://en.wikipedia.org/wiki/Shavian_alphabet

Comentários
Postar um comentário