O Dicionário Biográfico de Cinema#156: André Bazin
ANDRÉ BAZIN (1918-1958), n. Angers, França
Bazin teria sido excepcional, ainda que somente por ter sido um dos poucos escritores importantes sobre cinema para quem não havia uma palavra raivosa ou dolorida. Foi tão imensamente estimado enquanto homem. Jacques Rivette o chamava de "santo". Jean Renoir disse que sua obra sobreviveria ao próprio cinema. Robert Bresson observou como ele tinha um jeito curioso de extrair do falso para chegar finalmente ao que era verdadeiro. E para François Truffaut, naturalmente, Bazin foi nada menos que um pai substituto, um amigo e um professor que tornou a criança selvagem em ser, e morreu no dia após as filmagens de Os Incompreendidos terem se iniciado (filme que é dedicado à memória de Bazin).
Quando criança, Bazin se mudou de Angers para La Rochelle. Estudou lá e em Versalhes, e em 1938 ingressou na Ecole Normale Supérieure, em St. Cloud. Seus registros acadêmicos foram excepcionais, mas lhe foram negadas credenciais de ensino por conta de sua gagueira. Então, nos anos de guerra, uniu-se a Maison de Lettres, espécie de escola para os trabalhadores e para aqueles cuja educação havia sido prejudicada pela guerra. Também fundou um cineclube e apresentou diversos filmes que haviam sido banidos pelos nazistas. Após 1944, tornou-se crítico de cinema no Le Parisien Liberé; escreveu para diversos outros jornais e revistas; tornou-se professor do IDHEC (Institut des Hautes Etudes Cinématographiques); e fundou com Jacques Doniol-Valcroze, Les Cahiers du Cinéma. Escreveu livros sobre Orson Welles e Vittorio De Sica, e quando de sua morte (por leucemia), escrevia um livro mais amplo sobre Renoir. Mas foi também o autor de uma variedade de ensaios e resenhas que trazem uma definição coerente de cinema.
Bazin foi um católico esquerdista, e um argumentador e escritor preciso, na escola de Sartre, mas como teórico do cinema, tudo para ele se fundava na noção de filme como um registro da realidade. Como tal, amava o documentário e qualquer estilo que tendesse ao uso da iluminação natural, da profundidade de espaço e planos longos. Naturalmente, portanto, amava Renoir, Rossellini e Welles, assim como aspirava um tipo de cinema que imitasse, de forma aproximada, a experiência real. Foi também um humanista, devotado à ideia de performance e um amante de Chaplin, e de todos os tipos de atuação natural. Ainda que não tenha sido muito afeiçoado da montagem, foi um dos primeiros a compreender a importância de Bresson.
Os Cahiers foram inicialmente baseados em sua obra e exemplo, e uma visão histórica que via o melhor do cinema americano, europeu e japonês (foi um grande admirador de Mizoguchi) de forma conjunta. Também inspirou e apoiou jovens diretores que se tornariam a Nouvelle Vague, e fez a consideração essencial que os escritos críticos e a filmagem real não necessitavam ser separados. Ainda que raramente com boa saúde, trabalhou arduamente e se importava com animais tanto quanto pelos filmes e seus realizadores.
Acontece que escrevo esta entrada no mesmo dia que escrevo sobre David Begelman. E me ocorre que onde Begelman teria achado Bazin irrelevante, Bazin teria se fascinado por Begelman. Devemos lembrar disso numa época que os Begelmans se tornaram tão poderosos.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N.York: Alfred A. Knofp, 2014, pp. 193-5.
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