Filme do Dia: Iracema - Uma Transa Amazônica (1975), Jorge Bodanzky & Orlando Senna


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Iracema - Uma Transa Amazônica (Brasil, 1975). Direção: Jorge Bodanzky & Orlando Senna. Rot. Original: Orlando Senna, Jorge Bodanzky & Hermano Penna. Fotografia: Jorge Bodanzky. Música: Jorge Bodanzky & Achim Tappen. Montagem: Eva Grundman e Jorge Bodanzky. Cenografia: Orlando Senna. Com: Paulo César Pereio, Edna de Cássia, Conceição Senna, Rose Rodrigues, Sidney Piñon, Elma Martins, Wilmar Nunes, Lúcio dos Santos.
             Em 1970, auge do otimismo com o “milagre econômico” brasileiro, Tião Brasil Grande (Pereio), um sulista que resolveu trabalhar como transportador de madeiras na região da Transamazônica, encarna como ninguém os ideais de progresso. Em uma de suas andanças ele dá carona a uma prostituta de 15 anos, Iracema (Cássia). Quando Iracema começa a se afeiçoar ao caminhoneiro, esse a abandona em um lugarejo perdido do mapa. Iracema passa então a ter que enfrentar uma situação ainda mais instável que a vivenciada até então. Tempos depois, Tião a reencontra, decadente e famélica, em meio a um grupo de prostitutas. Ela insiste que ele a leve consigo, mas ele parte.

                 Essa sensível e poética viagem à alma brasileira, percorrendo algumas de suas regiões menos exploradas tanto em termos geográficos quanto de representação de valores, torna-se menos importante pela sempre referida mescla entre ficção e documentarismo, utilizando-se dos preceitos estéticos do último para reforçar o primeiro, que pelo apaixonante e apaixonado retrato do país e de muitos de seus personagens anônimos ao redor de uma Amazônia que arde em chamas como o próprio inferno. Esquivando-se de idealizações românticas sobre o povo, típicas do primeiro momento do Cinema Novo, Bodanzky surpreende pelo vigor com que reproduz muitas das situações cotidianas, sob uma perspectiva diretamente influenciada pelo Neorrealismo. Ao mesmo tempo que enfatiza um realismo que faz uso do cinema como meio exemplar para descrever a realidade sensível, afastando-se do excessivo cerebralismo que muitas vezes não consegue vencer as armadilhas do esquematismo, igualmente não descuida do caráter metafórico que reflete inquietações amplas. Talvez a principal seja a identidade nacional, em grande parte forjada pelos meios de comunicação que, ironicamente, também podem servir para acentuar o localismo, como nas sequências iniciais que apresentam um programa de rádio que traz mensagens pessoais da comunidade ribeirinha ou ainda a própria ironia com o mito fundador de Alencar, na figura de uma anti-Iracema, tão explorada quanto o próprio país. Nesse sentido aproxima-se mais de outra produção de caráter road movie e igualmente metafórica, No Decorrer do Tempo (1975), de Wenders  e, em termos de cinema brasileiro, antecede uma experiência semelhante realizada em ficção e menos bem sucedida, Bye Bye Brasil (1979). Ao tornar evidente os frouxos laços que separam o mundo representado da “realidade” não diegética em que foi efetuada a construção dessa representação o filme se aproxima de diversos cineastas modernos como Alexander Klüge, Jean Rouch, Cassavetes e Gláuber Rocha (em Câncer).Realizado em 16 mm e com explícitos cacoetes documentais,  como quando a câmera procura o “foco” adequado ou busca o personagem que fala através de um zoom jornalístico. Stopfilme. 90 minutos.

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