Filme do Dia: Tio Vanya em Nova York (1994), Louis Malle
Tio Vanya em Nova
York (Vanya on 42nd Street, EUA/Reino Unido, 1994). Direção: Louis
Malle. Rot. Adaptado: David Mamet,
baseado na peça de Anton Tchecov. Fotografia: Declan Quinn. Música: Joshua
Redman. Montagem: Nancy Baker. Dir. de arte: Eugene Lee & Daniele Perna. Figurinos: Gary Jones. Com: Wallace Shawn, Phoebe
Brand, Lynn Cohen, George Gaynes, Jerry Mayer, Julianne Moore, Larry Pine,
Brooke Smith.
A encenação de Tio Vanya, de
Tchecov, sob direção de André Gregory ocorre em um velho teatro semi-abandonado
de Nova York. Vanya (Shawn) e seus próximos, a mãe (Cohen), a sobrinha Sonya
(Smith) e os serviçais Waffles (Mayer) e Nanny (Brand) tem a sua modorrenta
vida provinciana abalada com a chegada do respeitável cientista tio de Vanya,
prof. Serybryakov (Gaynes) e sua jovem esposa Yelena (Moore). Junta-se ao
grupo, com freqüência quase cotidiana, o idealista médico Dr. Astrov (Pine). Embora Astrov, com toda
sua energia, pareça ser o contraponto dos homens do ambiente, despertando a
paixão de Sonya e incomodando a aparentemente impertubável Yelena, confessa
numa noite de bebedeira sua incapacidade de sentir algo por ninguém para Vanya.
Yelena, por sua vez, que desperta as paixões tanto de Vanya quanto de Astrov,
por sua beleza incomum, demonstra ser a mais apática a qualquer tipo de atividade
ao seu redor, não se interessando nem pelas discussões topográficas de Astrov
e, muito menos, pela quantidade de atividades a realizar na fazenda. Os
diferentes rumos que o presunçoso Serybryakov e Vanya pretendem para a
propriedade sela um grande conflito familiar que, no entanto, é contornado
pelas convenções e expectativas de que tudo retornará ao seu devido local.
Serybryakov parte com a esposa assim como, logo depois, Astrov. O retorno à
mediocridade massacrante do cotidiano, ansiado pelos serviçais, faz com que
Sonya console mais uma vez o tio sobre a inevitabilidade de se continuar a
viver sem maiores pretensões que a felicidade no além.
Essa vigorosa adaptação cumpre o seu
papel menos buscando a via da originalidade cinematográfica que simplesmente se
rendendo a grandeza incomensurável do texto, adaptado pelo dramaturgo David
Mamet. Segue, nesse sentido, adaptações tão diversas quanto as de Henrique V
(1945), de Olivier, Longa Jornada Noite Adentro (1962), de Lumet Quem
Tem Medo de V. Woolf? (1965), de Nichols; porém, não só não pretende
mascarar sua origem teatral como sequer propõe qualquer elaboração cenográfica
ou de figurinos maior (até mesmo por ser quase um registro dos ensaios da
montagem da peça de Gregory), ressaltando ainda mais a universalidade atemporal
da peça. Malle se concentra apenas no texto e nas interpretações, por sinal
admiráveis (com destaque para Larry Pine, principalmente no seu diálogo com
Shawn no segundo ato e Brooke Smith) nesse seu tributo à arte teatral. Tudo o mais,
seja a seqüência inicial dos atores chegando ao teatro, as breves intercalações
de Gregory entre os atos, para indicar sobretudo a passagem do tempo e até
mesmo a maravilhosa trilha musical de Redman são adereços, charmosos, porém
perfeitamente dispensáveis. Esse, que foi o último filme do cineasta,
aproxima-se da colaboração anterior com Gregory, Meu Jantar com André,
também com Shawn, pela força que depositada nos diálogos. Channel 4/Mayfair ent./Vanya co. para Sony Pictures
Classics. 119 minutos.
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