Filme do Dia: São Bernardo (1971), Leon Hirszman
São
Bernardo (Brasil, 1971). Direção: Leon Hirszman. Rot. Adaptado: Leon Hirzsman,
baseado no romance de Graciliano Ramos. Fotografia: Lauro Escorel. Música:
Caetano Veloso. Montagem: Eduardo Escorel. Dir. de arte: Luiz Carlos Ripper.
Cenografia: Túlio Costa. Figurinos: Luiz Carlos Ripper. Com: Othon Bastos,
Isabel Ribeiro, Nildo Parente, Joseph Guerreiro, Vanda Lacerda, Mário Lago,
Jofre Soares, Rodolfo Arena.
Após conquistar a fazenda de São Bernardo as custas da
pressão sobre o endividado e fraco Padilha (Parente), que passa a se tornar seu
empregado, e do assassinato do fazendeiro rival vizinho, Paulo Honório (Bastos)
passa a ter como objetivo o casamento, para possuir um herdeiro para suas
terras. O casamento ocorre com a sensível e culta professora local, Madalena
(Ribeiro). Devotada ao marido e aos empregados, logo a mulher se transforma em
vítima dos achaques constantes do marido que desconfia progressivamente de que
ela é comunista e o trai com vários homens. Inconformada com a vida opressora
que leva nos três anos que vive com Honório, Madalena suicida-se. Só então, já
tardiamente, Paulo Honório fará uma mea
culpa para si próprio, consciente de que o pior de tudo é que jamais
conseguiria mudar o seu jeito de ser.
Talvez a melhor adaptação sobre fonte literária de todo o
cinema brasileiro e certamente a obra-prima de Hirszman, o filme é uma
sofisticada operação narrativa no qual as vozes do passado e do presente do
protagonista se mesclam numa teia sólida e destituída de sentimentalismo ou
qualquer firula ornamental desnecessária, na qual a obsessão pela posse
material rege todas as relações de Honório com o mundo. Nesse sentido se
acompanha desde os atos ilícitos cometidos no início de sua carreira até sua
inserção na sociedade local, sua relação com a religião, os trabalhadores e a
própria mulher. Em termos estéticos, o filme é marcado pela poesia de seus
longos planos estáticos ou com elegantes movimentos de câmera, a cuidadosa
iluminação e o uso soberbo da profundidade de campo– com destaque para a
despedida de Madalena, na qual sua figura desaparece ao fundo tal qual um
fantasma. Recusando não só o viés oficial com que muitas adaptações literárias
foram produzidas à sua época, como realçando a própria identidade da exploração
no campo do período descrito no romance com o vivido pela época do filme na
seqüência de escopo documental ao final, o que acabaria levando a sua
temporária censura. Na trilha sonora, igualmente austera, destaque para o canto
de tons carpideiros que acompanha a referida seqüência. Não menos brilhante é a
direção de atores, com destaque para Isabel Ribeiro, numa das maiores
interpretações femininas do cinema brasileiro em todos os tempos.Embrafilme/Mapa
Filmes/Saga Filmes. 113 minutos.
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