Filme do Dia: Cartas do Saara (2006), Vittorio De Seta
Cartas do Saara (Lettere dal Sahara, Itália, 2006). Direção e Rot. Original: Vittorio De Seta. Fotografia: Antonio Grambone. Música: Ismaël Lô. Montagem: Marzia Mete. Com: Djibril Kebe, Paola Ajmone Rondo, Fifi Cisse, Thierno Ndiaye.
Assane (Kebe) é um refugiado senegalês que é salvo pela
polícia italiana quando, juntamente com outros imigrantes, é jogado ao mar,
próximo à costa. Quando se encontra em vias de ser deportado para seu país, foge
e vai de encontro a um parente que vive
em situação de extrema penúria. Abandona-o para ir encontrar a prima Salimata
(Cisse), hoje modelo. Porém, apesar de bem recepcionado, o fato de viver com um
homem sem ser casada provoca o inconformismo de Assane que resolve partir para
Turim, onde ouviu vagamente sobre condições de trabalho. Lá é
auxiliado por uma professora de italiano, Caterina (Rondo), que consegue
regularizar minimamente sua situação no país e transforma um jovem senegalês em
seu irmão mais jovem. Porém, a violência sofrida na saída de uma casa noturna, traumatiza
o jovem que retorna para seu país e reencontra a figura paternal de um
ex-professor universitário (Ndiaye), discursando para outros jovens de uma
aldeia distante de Dakar sobre a confusão e até mesmo a falta de crença em Deus
após tudo o que havia sofrido sem motivação.
O realismo desse drama de tinturas políticas, acentuado
ainda mais pela textura digital e rasa das imagens, pungente em seu humanismo,
aproxima-se, em última instância, das mesmas limitações do cinema de
um Ken Loach. Ou seja, uma tendência não somente a um certo maniqueísmo quanto
– e pior – até mesmo uma idealização dos africanos como despidos de conflitos e
eticamente superiores aos europeus. Assim, se o núcleo dramático europeu ainda
consegue ser “complexificado”, apresentando uma sociedade capaz de gerar tanto
pessoas grandemente receptivas ao protagonista (representado sobretudo por
Caterina) quanto o seu oposto, na África tudo parece comunhão e paz. Em termos
formais, igualmente, o filme é menos interessante que as propostas de outro
realizador interessado em temas políticos no cenário italiano contemporâneo,
Nanni Moretti, com filmes mais auto-reflexivos e menos esquemáticos. Como
Loach, De Seta pole tanto seu personagem de qualquer dimensão vulgar que o
resultado torna-se tanto dignificante quanto igualmente paternalista e redutor
de uma representação mais ampla e verdadeiramente humana em seus
paradoxos. Prêmio da Cidade de Roma no
Festival de Veneza. Metafilm/A.S.P. 100 minutos.
Compartilhada.
ResponderExcluirValeu pela enchente de cultura.
Um abraço.
Valeu pelo carinho Beth. Tempos difíceis para a cultura e para a vida, que são a mesma coisa, se a gente pensar bem, né? Beijos...
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