Filme do Dia: A Noite Tem Mil Olhos (1948), John Farrow
A Noite Tem Mil Olhos (Night Has a Thousand Eyes, EUA, 1948). Direção:
John Farrow. Rot. Adaptado: Barré Lyndon &
Jonathan Latimer, baseado no romance de
Cornell Woolrich. Fotografia: John F. Seitz. Música: Victor Young. Dir.
de arte: Franz Bachelin & Hans Dreier. Figurinos:
Edith Head. Com: Edward G. Robinson, Gail Russell, John Lund, Virginia Bruce,
William Demarest
John Triton (Robinson) é um
pretidigitador em espetáculos menores até o momento em que descobre que possui
realmente poderes premonitórios. Assustado e infeliz com a maioria de suas
visões, em que prevê da morte de um garoto jornaleiro (Nokes) a morte da
própria noiva de parto, Jenny (Bruce), afasta-se do mundo social. Jenny casa-se
com o melhor amigo de ambos, Whitney Courtland (Cowan), que havia enriquecido a
partir das previsões de Triton. Depois de mais de 15 anos afastado de todos,
Triton procura reencontrar Whitney em sua mansão, porém sabe por sua filha Jean
(Russell), que ele se encontra prestes a empreender uma viagem de avião
transatlântica. Prevendo a morte do amigo, Triton deixa Jean assustada e seu
noivo Peter (Webb) intrigado. Whitney realmente morre e, para piorar tudo, Jean
adivinha que Triton prevera a morte dela própria para menos de uma semana, as
11 da noite, onde ele também percebia as pegadas de um leão, uma flor machucada
e vidro quebrado. Anteriormente ele previra seu suicídio, sendo ela salva no
último momento pelo noivo. Todos os elementos secundários da visão de Triton se
concretizam. Porém Triton se encontra preso na polícia, suspeito de ter
praticado os crimes que previa, afirmando ser o único que possui condições de
salvar a vida de Jean. Um leão foragido é dado como circulando pelo bairro e
todos na casa permanecem em alvoroço. Porém o leão é capturado e a promessa não
se concretiza as 11, já que um ex-funcionário da família, interessado na morte
de Jean, atrasa o relógio da sala. Livre da tensão, Jean se dirige sozinha ao
jardim. Quando se encontra em vias de ser morta com um leão de pedra do jardim,
Triton, que havia conseguido convencer os policiais de ir até a residência dos
Courtlands aparece e a salva, não conseguindo escapar da própria morte como
também previra.
Essa boa
adaptação de Woolrich, fonte inesgotável para o cinema com sua literatura
policial (presente tanto no cinema clássico americano como em adaptações para o
universo autoral de cineastas tão diversos quanto Claude Chabrol, Fassbinder,
Truffaut e Almodóvar), consegue unir ao tradicional suspense do gênero noir um certo tom barroco e derramado no
seu enfoque do sobrenatural, que nada fica há dever ao universo de um
H.P.Lovercraft. Quem pretender compreendê-lo pela via do realismo certamente
ficará desapontado com a infalibilidade das visões do protagonista, assim como
sua riqueza de detalhes. Quem, no entanto, compactuar com sua trama como
acompanha um bom conto fantástico, não ficará decepcionado. Um dos trunfos da
narrativa, sem dúvida alguma, é a ironia de fazer com que justamente um
prestidigitador fracassado, que nunca levara a sério sua profissão, descubra a
si próprio como um autêntico visionário. Paramount Pictures. 80 minutos.
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