Filme do Dia: O Ladrão de Bagdá (1940), de Michael Powell, Ludwig Berger & Tim Whelan


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O Ladrão de Bagdá (The Thief of Bagdad, Reino Unido, 1940). Direção: Michael Powell, Ludwig Berger & Tim Whelan. Rot. Original: Lajos Biró & Miles Malleson, a partir do argument de MIklós Rózsa. Fotografia: George Perinal. Música: Miklós Rózsa. Montagem: Charles Crichton. Dir. de arte: Vincent Korda. Figurinos: John Armstrong, Oliver Messel & Marcel Vertès. Com: John Justin, June Duprez, Sabu, Conrad Veidt, Rex Ingram, Miles Malleson, Morton Selten, Mary Morris.
Tendo sido expulso de Bagdá, pelo malévolo Jaffar (Veidt), o Rei Ahmad (Justin), agora cego, conta suas aventuras de quando havia encantado  a bela Princesa (Duprez), provocando a ira de Jaffar. No calabouço, juntamente com Abu (Sabu), que havia sido preso roubando no mercado, eles unem suas forças, conseguem fugir e viver uma série de aventuras que envolvem um gênio numa garrafa, um cavalo alado, um templo secreto onde Abu terá notícias de onde anda Ahmad. Após encontrá-lo em meio ao deserto, com a ajuda do gênio voador, por descuido, Abu deseja que Ahmad estivesse em Bagdá  e esse é o último de seus três desejos, ficando o gênio liberto. Ahmad, em Bagdá, surpreende Jaffar, que havia conseguido extrair a memória da Princesa. Desesperado em meio ao deserto, Abu quebra a pedra mágica que consegue visualizar o que se deseja e sua destruição o leva a um reino mágico, uma comunidade de velhos, liderada por um Velho Rei (Selten), que somente retornariam à vida com a chegada de um jovem, no caso Abu, considerado como sucessor do reino.

Essa produção, curiosa em termos de se tratar de um grande investimento em um gênero – fantasia – considerado quase sempre, com raras exceções como O Mágico de Oz (1939), menor em Hollywood, transforma-se numa extravagante e ao mesmo inteligente incursão pelo universo associado a mítica Bagdá de Ali Babá e os 40 Ladrões. Para tanto conta com sua bela e estilizada cenografia, efeitos especiais e visuais bem razoáveis para a época, uma fotografia deslumbrantemente irreal e um universo de conto de fadas, narrado de forma sagaz, incorporando deixas do próprio roteiro – a pedra mágica que se visualiza quem muito se quer ver, por exemplo – para fazer com que a narrativa avance, mudando espacialmente igualmente o âmbito da mesma. A cenografia é um caso à parte, tornando crível o ambiente apresentado justamente por ser tão fantasiosa. Existem achados talvez menos interessantes ou mais fáceis para situações aparentemente sem solução, como a súbita aparição de um reino mágico que salva a situação calamitosa do companheiro do herói, Abu - vivido pelo menino-prodígio Sabu, descoberto por Flaherty 3 anos antes, vivendo então o auge de sua merecida e relativamente meteórica fama -  mas numa licença narrativa nada incomum no gênero. Mais importante é o modo em que entrelaça o próprio ato de narrar de forma incomumente inteligente e faz-nos refletir sobre as relações tênues entre realidade e fantasia, ou melhor dizendo, da força da fantasia como também parte do real ao ponto de nos perdermos entre o que está sendo narrado e sua história-moldura e sobre o que vem antes ou depois numa história que parece apontar para uma dimensão um tanto cíclica, algo evocativo da própria As 1001 Noites. E também seus engenhosos e algumas vezes poéticos diálogos, demonstrando uma força que prescinde de cenas de lutas excessivas, sendo que somente em um determinado momento se observa Sabu desferindo um corte sobre o rosto de um nativo devidamente produzido como negro. Numa das sequencias iniciais, por exemplo, em que é perseguido no mercado por um batalhão de pessoas, extrai-se um efeito muito mais humorístico que propriamente de violência da agilidade do ator.  Há uma carga de fascínio e erotismo implícita igualmente, algo nada incomum na filmografia de Powell, aqui ainda sem a companhia de seu duradouro parceiro Emeric Pressburger. Paralelos evidentes podem ser traçados com a produção de mais de sete décadas após As Aventuras de Pi, ambas mega-produções de aventuras, repletas de efeitos visuais-especiais e evocando de forma inteligente o próprio ato de narrar. Os irmãos Alexander e Zoltan Korda, assim como William Cameron Menzies também dirigiram sequencias, ainda que não tenha sido créditos no final. London Film Prod. para United Artists. 106 minutos.

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