Filme do Dia: Quando o Coração Floresce (1955), David Lean
Quando o Coração Floresce (Summertime, EUA, 1955). Direção: David Lean. Rot.Adaptado: H.E.Bates, David Lean & Donald Ogden Stewart baseado na
peça de Arthur Laurents The Time of the Cuckoo. Fotografia: Jack Hildyard. Música: Alessandro Cicognini.
Montagem: Peter Taylor. Com: Katharine Hepburn, Rossano Brazzi, Isa Miranda,
Darren McGavin, Jane Rose, MacDonald Parke, Jeremy Spenser, Gaitano Andiero.
Jane Hudson (Hepburn), solteirona de
meia-idade viaja à Veneza com economias guardadas de longo tempo, com o intuito
subliminar de viver seu primeiro amor. Logo faz amizade com um casal de
turistas tipicamente americano, os McIlhenny (Parke/Rose), que também se
encontram na pousada Fiorina, comandada pela senhora de mesmo nome (Miranda).
Um casal já se encontra hospedado por lá, o artista Eddie (McGavin) e sua
namorada. Embora procure forjar laços de amizade, Hudson fica sozinha após a
saída da dona da pensão e sua recusa para um passeio com Eddie, que disse que
iria sair com um outro casal de amigos. Hudson vai à Praça de São Marcos, após
ser importunada pelo garoto Mauro (Andiero), por quem acabará se afeiçoando. Na
Praça é admirada longamente por Renato di Rossi (Brazzi), retirando-se incomodada
e posteriormente reencontrando-o na loja de antiguidades, que pertence a
Renato, em que compra uma taça.
Sentindo-se apaixonada, não resiste e volta no dia seguinte a Praça de São
Marcos, onde Renato se aproxima mais e afasta-se pensando que ela se encontra
acompanhada, ou pelo menos dando a entender que assim pensara. Angustiada,
Hudson pede o auxílio de Mauro para retornar à loja de Renato, porém ele não se
encontra. Ela cai no canal. Abatida na pensão, recebe a visita de Renato, que
procura explicitar seus sentimentos para uma confusa Hudson, embora sejam
interrompidos pelo casal McIlhenny, em
que a mulher mostra umas taças idênticas a que Hudson comprara na loja de
Renato. Indignada, ela no entanto, finda por acreditar em Renato, que
confirmara a sua peça como sendo do século XVIII. Ambos vão assistir uma
apresentação de peças de Rossini. Porém o clima de idílio romântico termina na
noite seguinte, quando descobre que o garoto que trabalha na loja de Renato,
Vito (Spenser), é na verdade seu filho. Ela presencia aterrorizada a partida da
mulher de Renato com um homem em uma gôndola. Renato a encontra e, enquanto ela
lhe critica suas mentiras, ele desaprova seu comportamento imaturo, afirmando
que seu casamento não mais existe, e que sua esposa leva a vida que ela quer.
Enfim, quando percebe que a resistência a Renato parte mais de sua insegurança
pessoal que pelo fato de ser casado, Jane cede. No dia seguinte parte de Veneza
de trem. Renato aparece no último momento na estação.
Provavelmente poucas vezes Veneza
recebeu um tratamento visual tão elegante quanto nessa obra de Lean. Porém todo
o virtuosismo acadêmico de seu elaborado trabalho de câmera e esmerada
fotografia e direção de arte vão de encontro a uma intriga extremamente
estéril, por vezes beirando o ridículo involuntário. Ainda assim, no meio da
pasmaceira dos conflitos sentimentais da senhora Hudson, podem se encontrar
alguns traços sutis de modernidade, seja em alusões veladas de Renato ao sexo
no escurinho dos canais, seja pela alusão mais explícita da fobia dos
americanos por sexo, quanto - e principalmente - pelo desenlace descomprometido
do final, assim como a recusa em buscar investigar os motivos que levam Renato
e sua esposa a viverem um casamento de aparências. Os personagens secundários,
no entanto, possuem uma definição confusa, que os qualifica como não mais que
óbvios instrumentos para o desenvolvimento da intriga principal (como no
momento em que o casal americano reaparece apenas para criar o conflito com
relação às taças), sendo a apresentação do casal de turistas americanos
representando todos os clichês possíveis da situação particularmente não
interessante. Alguns momentos desse auto-centramento tanto da personagem de
Hudson quanto da própria intriga principal com relação aos personagens
secundários chega a ser involuntariamente cômica: a senhora Hudson, a todo custo, procura
afastar o garoto Mauro de suas lentes, para que possa fotografar a loja de
Renato. Por outro lado, o próprio interesse súbito de Renato por Jane soa
grandemente inverossímil. London Film/Lopert Productions/United Artists. 100
minutos.
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