Filme do Dia: Nas Garras da Ambição (1955), Raoul Walsh
Nas Garras da Ambição (The
Tall Men, 1955, EUA). Direção: Raoul Walsh. Rot. Adaptado: Frank S. Nugent
& Sydney Boehm, a partir do romance de Heck Allen. Fotografia: Leo Tover.
Música: Victor Young. Montagem: Louis R. Loeffler. Dir. de arte: Mark Lee-Kirk
& Lyle R. Wheeler. Cenografia: Chester Bayhi & Walter M. Scott. Figurinos:
Travilla. Com: Clark Gable, Jane Russell, Robert Ryan, Cameron Mitchell, Juan
García, Harry Shannon, Emile Meyer, Steve Darrell.
Os irmãos Ben (Gable) e Clint (Mitchell), após terem roubado
o influente Nathan (Ryan), concordam com
esse que podem ganhar menos dinheiro e não terem o risco de serem enforcados,
de forma mais honesta, trabalhando para o mesmo, que pretende levar um rebanho
de 5 mil reses do Texas até Montana. A dupla aceita e parte com um grupo de
mexicanos como apoio, salvando a bela Nella (Russell) dos indígenas. Nella se
envolve emocionalmente com Ben em meio a acidentada travessia, porém sua pouca
ambição a faz se distanciar dele e se aproximar do grã-fino Nathan. Após uma
série de dificuldades do grupo, incluindo um enfrentamento contra um grupo de
bandoleiros oportunistas assim como contra os índios e a morte de Clint por
esses, o grupo finalmente chega a seu destino. Nathan tenta ser desonesto com
Ben, tendo alguns pistoleiros como garantia de que esse não reagirá, porém ele já
veio precavido com um número muito maior de homens, os fiéis mexicanos.
Desapontado por Nella não ter ficado com ele, Ben resiste à comemoração pela
pequena fortuna conquistada com a façanha. Logo, no entanto, perceberá que quem
se encontra em seu carroção é ninguém menos que Nella.
Com a dupla linha narrativa típica do cinema clássico, sendo
que a preponderância dessa varia ao longo da narrativa, logo após certo tempo a
refrega do triângulo amoroso ganhando destaque sobre a própria travessia, esse
espalhafatoso western, filmado em tela panorâmica e cores, assim como
grandiloquentes panorâmicas que apresentam o cenário grandioso, repleto de
reses ou de índios, a depender do momento (eles chegam a ser comparados como
tão numerosos quanto às pulgas num cachorro), reforça a condição de gênero
habitual dos papéis reservados ao homem e a mulher, assim como a raça, ao
contrário de mais ousadas incursões no psicologismo contemporâneas (Johnny Guitar e, principalmente, Rastros de Ódio, para se ficar em dois
exemplos). Comparado com o último, o filme se torna um exercício de provável
subserviência ao seu roteiro igualmente adaptado de um romance, e por sinal tendo
como um seus roteiristas o mesmo Nugent. Se Ford complexifica ao absurdo as
questões presentes no livro e em sua adaptação como roteiro, aqui se tem uma
quase compulsiva e didática elegia ao herói branco no comando, sendo os índios
somente o habitual obstáculo fácil de
sempre e os mexicanos, uma simpática trupe de submissos fãs do herói, assim
como seu civilizado contraparte branco, demasiado indeciso diante das decisões
vitais. Esse, por sua vez, também apresenta uma vitalidade e caráter – demonstrado
ao final, quando revela sua verdadeira faceta - que falta a seu concorrente na
figura da amada e uma maturidade ausente no irmão, por isso mesmo devidamente
morto. Quanto à figura da mulher, sua representação se encontra bem longe de
elogiosa, mesmo para os padrões habitualmente misóginos de um realizador como
Ford. Calculista durante quase toda a narrativa e driblando o próprio
desejo/sentimento pela ambição/dinheiro que faz curiosa referência o título
brasileiro, a mocinha vivida por Russell sofre previsivelmente quando pretende seguir sua própria intuição
inábil de criança mimada, caindo na lama do rio, para a diversão sádica, mas
não excessiva como a do irmão, de Ben. 20th Century Fox Film Corp. 122 minutos.
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