Filme do Dia: Leni Riefensthal: A Deusa Imperfeita (1993), Ray Müller



Leni Riefensthal: A Deusa Imperfeita (Macht der Bilder: Leni Riefensthal, Reino Unido/França/Alemanha/Bélgica, 1993). Direção e Rot. Original: Ray Müller. Fotografia: Michael Baldour, Walter A.Franke, Ulrich Jänchen, Horst Kettner & Jürgen Martin. Montagem: Vera Dubsikova & Beate Köster. Cenografia: Michael Grasser.
Esse magistral documentário segue, de uma maneira tão obsessiva quanto a própria cineasta retratada em relação ao que dirigia, a carreira da polêmica Leni Riefensthal desde o período em que se tornou uma legendária atriz dos chamados “filmes de montanha”, encantando Hitler, até a contemporaneidade, onde se diverte realizando filmagens submarinas aos 90 anos de idade. Explora a exaustão os momentos chaves da carreira da cineasta como o famoso documentário O Triunfo da Vontade, sobre o Congresso do Partido Nacional-Socialista de 1934 ou Olympia, documentário que celebra as Olimpíadas de 1938 a partir de um rigoroso aparato tecnológico, parte dele criado especialmente para a produção. E se detém igualmente nas atividades que voltaram a chamar a atenção do mundo para a cineasta, como o seu longo contato com tribos africanas do Sudão, como os Nubas,  com quem conviveu por vários meses seguidos, a partir da década de 60, realizando  filmagens e editando livros de fotografias ou ainda suas mais recentes incursões no mundo submarino. O ponto forte do filme é que a maior parte do material exposto é comentado pela própria cineasta, boa parte deles em uma ilha de edição ou, igualmente, quando a cineasta revisita a maior parte dos cenários dos filmes que atuou e dirigiu. Entre seus melhores momentos o que uma Riefensthal entusiasmada observa imagens de O Triunfo da Vontade ou que se irrita e discute energicamente com Müller, defendendo-se das acusações de realizar um cinema político. Ou ainda quando, em tom confessional, faz considerações sobre sua imagem de Hitler ou suas divergências com Goebbels, que afirma nunca ter superado sua rejeição por ele. E ainda as impagáveis sequências de filmagem submarina, em que se depara, sem o menor temor, com tubarões e arraias gigantes. Embora Müller  nunca confronte diretamente o ponto de vista da cineasta, aparentando uma certa neutralidade, é visível que toda a narrativa do documentário praticamente desconstrói, seja através das imagens ou de uma ironicamente grave voz off o que Riefensthal acaba de contestar. Entre os vários exemplos, se encontra particularmente aquele em que a cineasta se esquiva da afirmação de Susan Sontag que as fotografias da cineasta alemã junta aos Nuba são ainda completamente presas de elementos estéticos fascistas e logo a seguir as fotos de nubas posando com suas lanças é associado a poses bem semelhantes de esportistas igualmente atléticos na abertura de Olympia. Ou ainda quando a cineasta afirma que nunca fez parte do círculo que frequentou a intimidade de Hitler e Goebbels, sendo igualmente desmentida pelos diários do último. Finaliza com uma pretensa chance da cineasta fazer uma expiação pública de seu passado que ela consegue igualmente revidar afirmando que seria muito pouco pedir desculpas e que, na verdade, nada fez de errado além do documentário sobre o partido nacional-socialista. Embora seja excessivamente contraditório e pouco crível o discurso da cineasta, nem por isso o filme deixa de apresentar uma personagem extremamente carismática e com uma paixão indubitável pelo cinema, presente seja no momento em que reencontra cinegrafistas que haviam trabalhado com ela em Olympia ou apresenta, encantada com sua própria habilidade, os efeitos de reversão do filme para a seqüência, no mesmo filme,  dos saltos ornamentais na piscina, criando um efeito de detalhe e beleza superior ao convencional. Outro documentário bem sucedido que explora igualmente questões estéticas associadas ao nazismo é Arquitetura da Destruição. Müller filmou posteormente Leni Riefensthal no Sudão (2000). Channel 4/Nomad Films/Omega Film GmbH/Without Walls/ZDF/arte. 180 minutos.


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