Filme do Dia: Obsessão (1943), Luchino Visconti
Obsessão (Ossessione, Itália, 19433).
Direção: Luchino Visconti. Rot. Adaptado: Luchino Visconti, Mario Alicata,
Giuseppe De Santis, Antonio Pietrangeli & Gianni Puccini, baseado no
romance The PostmanAlways Rings Twice,
de James M. Cain. Fotografia: Domenico Scala & Aldo Tonti. Música: Giuseppe
Rosati. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Gino Franzi. Figurinos: Maria
De Matteis. Com: Clara Calamai, Massimo Girotti, Juan de Landa, Dhia Cristiani,
Elio Marcuzzo, Vittorio Duse.
Giovanna Bragana (Calamai) vê sua modorrenta
rotina de cuidar dos afazeres domésticos e do marido Giusseppe (Landa) se
transformar com a chegada do forasteiro errante Gino (Costa), por quem se sente
instantaneamente atraída. O marido aceita a proposta de Gino de permanecer
alguns dias na propriedade, após esse consertar rapidamente seu caminhão.
Enquanto esse se encontra afastado, Gino começa a viver uma tórrida relação com
Giovanna. Num dia em que Giusseppe parte prá pescar, Giovanna resolve
acompanhar Gino em sua fuga. Desiste no meio do caminho e retorna para casa.
Gino conhece um tipo, o Espanhol (Marcuzzo), que se oferece para
pagar sua passagem, quando esse se encontra na iminência de ser posto para fora
do bonde e que divide com ele uma pensão barata. O Espanhol faz apresentações
mambenbes e Gino trabalha como homem-propaganda, até que é descoberto por
Giusseppe e a esposa. Após uma noite em que Giussepe encanta a platéia de uma
casa noturna e se embriaga, Gino e Giovanna resolvem matá-lo, simulando um
acidente. A polícia, desconfiada do fato de Giovanna ter escapado completamente
ilesa e se mostrar pouco triste com a morte do marido, manda um detetive (Duse) investigá-los. Porém agora que se encontram a sós, tudo não ocorre como
o planejado. Giovanna tem que conviver com a apatia de Gino e sua consciência
intranquila que necessita abandonar o local para esquecer do morto. Gino, por
sua vez, tem que conviver com a ânsia de Giovanna de ganhar dinheiro com seu
negócio, que vai de vento em popa, além de ter que conviver igualmente com uma
casa que se transformou em local público
até altas horas da manhã. A súbita aparição do Espanhol, que sabe de tudo, apenas
complica a situação. Sendo rejeitado por Gino, que o acaba esmurrando e chamando
a atenção do detetive relata tudo à polícia. Gino pretende abandonar Giovanna e
vê uma oportunidade ao conhecer a pouco exigente Anita (Cristiani), a quem finda por contar tudo, após Giovanna
ter lhe abordado na frente da garota. Giovanna volta a segui-lo e lhe conta
sobre as 50 mil liras que conseguiu do seguro do marido. Gino sente-se ainda
mais enojado dela e a rejeita publicamente. Testemunhas que viram o acidente,
no entanto relatam à polícia sobre como ele fora maquinado pelo casal. Gino
percebe o detetive nas imediações e pede que Anita o distraia enquanto foge. Ele
vai ao encontro de Giovanna. Grávida e cheia de sonhos ela parte com Gino, logo
encontrando a morte em um novo desastre de caminhão, sendo Gino logo capturado
pela polícia.
Melodrama
considerado por muitos como precursor do Neo-Realismo, tanto pelos personagens
desglamourizados como pelas filmagens em locação, ainda que dotado de uma
fotografia e iluminação excessivamente meticulosas para os padrões da
época, o filme hoje, portanto, parece
menos se aproximar dos filmes neo-realistas de alguns anos após que dos filmes
do chamado realismo poético francês, de alguns anos antes, até mesmo pedindo
emprestado sua habitualmente sombria atmosfera, compartilhando com estes tanto
um sentido fatalista de destino como o amor fou do casal protagonista. Deve-se
levar em conta, que Visconti havia sido assistente de direção de Renoir alguns
anos antes. Condenado pelos fascistas, que queimaram seu negativo, devido as
evidentes alusões a relação homo-erótica entre o espanhol e Gino, o filme
baseia-se num clássico romance noir que, por sinal, já tivera uma
adaptação do cinema francês em 1939, e posteriormente seria refilmado pelo
cinema americano em 1942 (dirigido por Tay Garnett) e em 1981 (por Bob
Rafelson). Visconti acabou realizando uma adaptação livre, após tentar, sem
sucesso, conseguir os direitos autorais da obra de Cain. A traição da esposa e
amante contra o marido em uma simulação de acidente de carro, foi tema tanto do
clássico noir Pacto de Sangue (1944) de Billy Wilder, quanto de uma outra adaptação do estilo noir
para o cinema italiano, Crimes d’Alma
(1950), de Michelangelo Antonioni, onde o cineasta consegue ser mais inovador
na sua utilização do gênero que Visconti, aproximando-o de temáticas que se
apresentariam como recorrentes em sua obra. Coincidentemente o mesmo Girotti,
viverá o papel do amante que planeja a morte do marido. Também como Antonioni,
trata-se do primeiro filme de longa-metragem do cineasta. Um dos nomes que
viria a ser destaque com o Neo-Realismo,
De Santis, é co-roteirista e assistente de direção. A versão integral conta com
142 minutos. ICI. 120 minutos.
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