Filme do Dia: À Beira do Cadafalso (1958), Ralph Thomas

À Beira do Cadafalso (A Tale of Two Cities, Reino Unido, 1958). Direção:  Ralph Thomas. Rot. Adaptado: T.E.B. Clarke, baseado no romance de Charles Dickens. Fotografia: Ernest Steward. Música: Richard Addinsell. Montagem: Alfred Roome. Dir. de arte: Carmen Dillon. Figurinos: Beatrice Dawson. Com: Dirk Bogarde,  Dorothy Tutin,  Cecil Parker,   Stephen Murray, Athene Seyler,  Paul Guers, Marie Versini,  Ian Bannen, Ernest Clark, Rosalie Crutchley,  Freda Jackson, Duncan Lamont,  Christopher Lee,  Donald Pleasence.
      Lucie Manette (Tutin), após anos,  reencontra na França, com a ajuda de Jarvis Lorry (Parker),  o pai, Dr. Manette (Murray), que havia sido tornado prisioneiro na Bastilha durante 18 anos, por ter desacatado a ordem do nobre Marques de St. Evremonde (Lee), de silenciar sobre os maus tratos que a nobreza infligia sobre os camponeses. Lucie leva seu pai, que se encontra próximo da completa prostração, de volta à Inglaterra, onde ele volta a se sociabilizar e retoma sua profissão de médico. Na sua jornada, Lucie apaixona-se por Charles Darnay (Guers), que é acusado de tramar contra à Coroa e ser um simpatizante da América pelo espião Stryver (Clark). Quem acaba salvando Darney, no último momento, é o recurso que seu advogado, se utiliza de compará-lo com seu assistente, Sidney Carton (Bogarde), para demonstrar a semelhança física entre homens de uma idade semelhante. Carton, amigo do álcool, invade certa noite a casa de Manette e lhe declara sua paixão. No dia seguinte, quando retorna para pedir desculpas flagra o noivado entre Lucie e Charles. E avisa a esses sobre a morte de Stryver. Porém, o pai de Lucie e Carton descobrem que Darney, na verdade, possui um passado aristocrático, sendo primo do Marques de Evremonde. Seu retorno à França, para defender a causa de alguns dos camponeses que trabalharam para sua família é motivo para a sede de vingança de uma  líder revolucionária (Jackson), que teve boa parte da família maltratada e morta pelos aristocratas, que a todo custo quer sua cabeça na guilhotina, e que, no último momento do julgamento, consegue reverter a decisão contra Darnay, apresentando uma prova em que o próprio Dr. Manette havia escrito uma carta na Bastilha comentando sobre os maus-tratos que Darnay infligia em seus camponeses. Por trás da carta se encontra Stryver, que forjou sua própria morte, mas ainda continua praticando espionagem. Encarcerado na prisão, Darnay espera à morte. Chantageando Stryver em uma taverna, Carton desmascara seu passado, que inclui serviços para o Marques de Evremonde, e vai com este visitar a prisão onde se encontra Darnay, sedando-o e trocando de lugar com o próprio, sendo condenado em seu lugar, enquanto este cruza a fronteira com a família Manette. Próximo do  final, Manette encontra Marie Gabelle (Versini), que havia sido criada do Marquês, e que reconhece não ser ele Darnay.
       Quinta das seis versões para o cinema da obra de Dickens. Produção grandemente burocrática, filmada em estúdio, que não consegue extrair dela grande coisa. Seguindo a trilha habitualmente rocambolesca do autor, o filme não consegue construir uma atmosfera que se aproxime do universo dickensiano, um dos principais pontos de quem pretende adaptá-lo para o cinema, como fez David Lean em Grandes Expectativas (1945). A estrutura narrativa pode dar saltos relativamente grandes no tempo como se condensar em uma ação que dura mais que seu tempo real, como no caso da leitura da carta que condena Darnay - enquanto a carta é lida ocorre um corte para uma ação que potencialmente seria paralela, e quando ocorre o desfecho dessa ação, que é o encontro entre Stryver e Carton na taverna, a ação retorna de onde havia sido suspensa, com a leitura da carta. Curiosamente, embora Dickens tenha desenvolvido uma tendência a projetar uma simpatia sobre os seus personagens menos favorecidos socialmente, mesmo que paternalisticamente, o herói aqui não é nem um proletário nem um aristocrata, antes um medíocre e fracassado assistente de advogado, portanto mais próximo de uma camada social mediana. Aliás é justamente com os menos favorecidos socialmente, os camponeses revolucionários, que se termina por lançar um olhar mais próximo de despertar a aversão, na figura da mulher rebelde, que busca vingar a qualquer custo sua família, mais ainda do que a prepotência do Marquês, que é punida com sua posterior execução. O olhar favorável lançado aos camponeses só os acompanha até o momento em que ainda continuam como vítimas, enquanto a partir da tomada do poder e da explosão da revolução, passam a ser retratados apenas como bestas furiosas, mesquinhas e vingativas. Essa é a versão britânica, enquanto a americana conta com 5 minutos a menos.  J. Arthur Rank Organisation. 117 minutos.


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