Filme do Dia: Brutalidade (1947), Jules Dassin
Brutalidade (Brute Force, EUA, 1947). Direção: Jules
Dassin. Rot. Original: Richard Brooks, a partir do argumento de Robert
Patterson. Fotografia: William H. Daniels. Música: Miklós Rózsa. Montagem:
Edward Curtiss. Dir. de
arte: John DeCuir&Bernard Herzbrun. Cenografia: Russell A. Gaussman.
Figurinos: Rosemary Odell. Com: Burt Lancaster, Hume Cronyn, Charles Bickford,
Art Smith, Yvonne De Carlo, Ann Blyth, Sam Levene, Jeff Corey, John Hoyt, Sir
Lancelot, Jay C. Flippen, Roman Bohnen.
Numa penitenciária a
tensão aumenta após a morte de um dos prisioneiros por outros, episódio que
serve para uma postura de maior rigidez e disciplina que contraria os
princípios do diretor da prisão, Warden Barnes (Bohnen) assim como do médico
que lá atende, Dr. Walters (Smith). Quem ganha espaço na hierarquia
profissional é o violento Capitão Munsey
(Cronyn), que não se esquiva em torturar presos buscando delações. Um
dos prisioneiros mais rebeldes é Joe Collins (Lancaster), que planeja uma ação
conjunta de fuga. Os planos prévios chegam aos ouvidos dos dirigentes da
instituição e em plena crise Barnes é destituído de seu cargo, enquanto todos
os poderes são delegados a Munsey.
Dassin empreende um
filme em que comentário social tipicamente liberal – não por acaso escrito por
um dos nomes que mais se identificará com tal postura na década seguinte,
Richard Brooks (Sementes da Violência)
– emerge a partir de um ambiente quase estritamente prisional do início ao
final do filme, pontuado por flashbacks dos personagens com relação a suas
respectivas mulheres endereçados a um calendário na parede. Anti-sentimental e
seco em sua descrição, mesmo quando comparado a alguns clássicos precursores ou
neo-realistas que abordavam universo semelhante (a exemplo de A Culpa dos Pais, de De Sica), o filme
se importa menos em vilanizar seus criminosos, aqui observados quase como que o
oposto, que as teias sociais corruptas nas quais estão engendrados,
representados por instâncias de poder acima do universo da prisão, e portanto
não presentes no filme, assim como membros do próprio sistema carcerário,
representado sobretudo pela figura vilanesca de Munsey, ao qual não escapa a
chance de torna-lo como uma espécie de alegoria do totalitarismo
recém-derrotado na Europa – a determinado momento ouvimos a célebre abertura de
Tannhauser, de Wagner
aparentemente como trilha incidental, mas logo descobriremos que é Munsey quem
a escuta enquanto método de inspiração para torturar aqueles que se negam a
“colaborar” – numa sequencia algo evocativa, ainda que menos emocionalmente
manipulativa a da tortura contra os membros da Resistência em Roma: Cidade Aberta. Surpreende pela
violência coletiva representada no massacre final, ao mesmo tempo sem deixar de
flertar com códigos tipicamente do cinema de gênero convencional, ao não deixar
de apresentar o clássico confronto entre forças do bem e do mal, ainda quando
representadas aqui pelo sinal invertido – parece existir uma estratégia
deliberada de não identificar os derrotados sociais como os derrotados morais
como de praxe, apresentando exemplos de moralidade ética em figuras como o
médico alcoólatra ou vários dos prisioneiros - através da luta final entre Joe
Collins e Munsey. Se há algum vitorioso nessa batalha, e novamente aqui em
contraposição ao final habitual de semelhantes contendas, esse parece ser o
próprio sistema, que continua sua rotina após os ânimos acalmados. Filme que
consolidou Lancaster como astro e o segundo dos três que realizaria para o
produtor Mark Hallinger, morto antes da conclusão do último. Mark Hellinger
Prod./Universal Pictures para Universal Pictures. 98 minutos.
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