Filme do Dia: A Família do Barulho (1970), Júlio Bressane

A Família do Barulho (Brasil, 1970). Direção e Rot. Original: Júlio Bressane. Fotografia: Lauro Escorel &
Renato Laclete. Música: Guilherme Magalhães Vaz. Montagem: Mair Tavares & Amaury Alves. Dir. de arte: Guará Rodrigues. Com: Maria Gladys, Wilson Grey, Helena Ignez, Grande Othelo, Poty, Guará Rodrigues, Kleber Santos.
Uma “família” no qual um malandro e um mais frágil se relacionam com uma mulher debochada (Ignez). Os dois homens buscam, através de um homossexual (Othelo) conseguirem uma odalisca (Gladys) que irá resolver a vida deles. Porém, a odalisca se entende com a mulher debochada e partem ambas, voltando a situação inicial.
Sem maiores preocupações narrativas, Bressane apresenta uma série de situações, a maioria das quais se repete ao longo do filme, fazendo uso de recursos diversos como a luz estourada semelhante ao efeito em negativo (explorada por Gláuber em sequências de Terra em Transe), tela escura, fotos fixas que não possuem qualquer relação direta com a diegese, etc. para compor um painel que, aparentemente, procura traçar um esboço das relações de poder. Fazendo uso, por vezes, de longos planos (como um, logo ao início, que apresenta uma mulher passando a ferro uma calça e, por vezes, sorrindo tímida para a câmera) e interpretações não naturalistas que fazem uso constantes de jogos com relação à sexualidade (“brincadeiras” entre os dois homens e também entre a debochada e a odalisca) revisitam de forma radical e menos brilhante, estratégias postas em articulação em Matou a Família e Foi ao Cinema. Ao acrescentar material não editado de forma ortodoxa – como uma tomada na qual Gladys afirma que “fizera tudo errado” ao final, recurso hoje banalizado nos programas televisivos – o filme apresenta uma dimensão que se aproxima do ensaio mais que da finalização, caráter que é igualmente responsável pelo seu hermetismo um tanto quanto estéril e auto-complacente, característica também presente em boa parte das obras de Sganzerla (co-produtor do filme). Ao final há uma referência, em chave sarcástica, a utilização da música de Villa-Lobos por Glauber. Belair. 75 minutos.

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