Filme do Dia: As Corças (1968), Claude Chabrol
As Corças (Les Biches, França, 1968). Direção: Claude Chabrol. Rot. Original:
Paul Gégauff & Claude Chabrol. Fotografia: Jean Rabier. Música: Pierre
Jansen. Montagem: Jacques Gaillard. Cenografia: Marc Berthier. Figurinos:
Michel Albray. Com: Jean-Louis Trintignant, Jacqueline Sassard, Stéphane
Audran, Nane Germon, Henri Attal, Dominique Zardi, Serge Bento, Henri Frances.
A endinheirada
Frédérique (Audran), enamorada de uma garota que conheceu na rua e que se
auto-denominou como Why (Sassard) vai para uma casa de praia no Mediterrâneo,
onde moram os histriônicos Robèque (Attal) e Riais (Zardi). Why, insatisfeita e
entediada, sai e se envolve com um dos jogadores com os quais Frédérique
jogara, Paul Thomas (Trintignant). Frédérique vai até a casa de Paul e eles
estabelecem uma relação, sendo Why posta de lado. Após certo tempo, Paul é
convidado a morar na mansão e a dupla Robèque e Riais é expulsa. As constantes
viagens e a sensação de se encontrar à margem do casal, aproximando-se cada vez
mais da figura de uma serviçal, faz com que Why viaje por sua própria conta
para Paris. Ela retorna após um tempo e não é bem recebida por Frédérique,
que a mata pouco antes da chegada de Paul à mansão.
Longe de seus
melhores momentos, aqui Chabrol erra a dose e procura estabelecer uma certa
atmosfera de surrealidade partindo não apenas do estranhamento construído pela
própria narrativa, mas apresentando personagens igualmente anti-realistas, como
é o caso da dupla de moradores-parasitas, sustentados pela liberalidade de
Frédérique, até se aborrecer com eles. Arrastado e sem propósito, esse que é
mais um dos inúmeros filmes do realizador a apresentar a neurose gerando
psicopatologia em ambientes burgueses – ainda que aqui, provocado por uma
personagem outsider – o filme parece antecipar, em certo sentido, uma
extravagância ainda mais pretensamente excêntrica, dirigida na década seguinte
por Polanski, com seu Que? (1973). Da
trilha sonora à tentativa de mimetização da figura de Frédérique por Why,
assemelhando-se mais a um pastiche de Persona
(1966), de Bergman, o filme parece ser contaminado do início ao final pela
própria inocuidade de seus personagens, assim como ter se tornado demasiado
explícito na elaboração psicológica deles, tornando-se
grandemente datado. Les Films de la Boétie/Alexandra Produzione Cinematografique
para Pathé Consortium Cinema/La Societé des Films Sirius. 100 minutos.
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