Filme do Dia: Cantando na Chuva (1952), Stanley Donen & Gene Kelly
Cantando
na Chuva (Singin´in the Rain, EUA,
1952). Direção: Stanley Donen & Gene Kelly. Fotografia: Harold Rosson.
Montagem: Adrianne Fazan. Dir. de arte: Randall Duell & Cedric Gibbons. Cenografia:
Jacques Mapes & Edwin B. Willis. Figurinos: Walter Plunkett. Com: Gene
Kelly, Donald O´Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Millard Mitchell, Cyd
Charisse, Douglas Fowley, Rita Moreno.
O impacto da mudança para o filme sonoro protagonizado pelo
sucesso de O Cantor de Jazz e da
nova técnica introduzida pela Warner faz com que a angústia e o nervosismo se
abatam sobre elenco e técnicos da Monumental Pictures de R.F. Simpson
(Mitchell), sobretudo a estrela Lina Lamont (Hagen), de dicção sofrível e par
do galã Don Lockwood (Kelly). A idéia de realizar um musical, novo gênero
emergente, encontra o obstáculo de Lamont. Outro astro da companhia, Cosmo
Brown (O´Connor) tem a idéia de fazer uso da voz da jovem Kathy Selden
(Reynolds), namorada de Don, para dublar Lina. A estratégia é um tremendo
sucesso. Lina, insegura diante da nova situação, torna-se crescentemente agressiva,
porém suas fraquezas são desmascaradas diante de toda a platéia, que descobre
que a verdadeira voz aveludade que adoram é de Kathy.
Menos interessa nesse que provavelmente seja o melhor
musical de todos os tempos, talvez somente comparável com Sapatinhos Vermelhos (1948), de Michael Powell, a história em si
que a arqueologia irônica que faz sobre a Hollywood da transição entre o cinema
mudo e o sonoro e o modo como articula sublimemente coreografia, figurinos,
movimentos de câmera, exuberante fotografia em Technicolor e direção de arte.
Em um momento no qual Hollywood se encontra particularmente sensível a explorar
temas vinculados ao presente decadente de estrelas do passado (Crepúsculo dos Deuses, A
Estrela, A Malvada, Nasce uma Estrela) o filme discorre com
um bom humor ausente nessa produção sobre os bastidores da indústria
cinematográfica, sobretudo através de seu mais hilário sketch, no qual Don/Kelly reconstitui de modo maquiado todo o seu
passado artístico, dando ares de respeitabilidade ao seu passado popularesco,
numa metáfora bastante apropriada para o próprio cinema. Com o avançar da
narrativa, a dimensão humorística vai sendo ofuscada gradativamente pela
musical e o filme também acaba por perder um pouco de seu impressionante ritmo,
marcado sobretudo pela notável fluidez do trabalho de camera. Entre os
destaques, a utilização do microfone de modo bastante enfático inicialmente na cenografia e posteriormente
no próprio corpo da atriz, uma paródia dos primeiros filmes produzidos no
início do cinema sonoro, que faziam uso
de recursos semelhantes (algo demonstrado, por exemplo, por Scorsese em seu Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano
com Martin Scorsese – Parte 2). Assim como a impressionante interação entre
câmera e casal no número de dança de Charisse e Kelly. Uma das maiores ironias
do filme e que deixa bastante evidente a distância entre o momento retratado e
o próprio filme, são as imagens em preto&branco do cinema mudo, que se
tornam um gritante contraste para uma das mais belas e estilizadas fotografias
em cores já efetivadas, sem dúvida nenhuma grande influência que foi
reapropriada por Jacques Demy em seus próprios musicais, tais como Os Guarda-Chuvas do Amor (1964). O
talento de Donen demonstrou não ser o mesmo quando se afastou do gênero em
filmes como o medíocre O Beijo de
Despedida, realizado poucos anos após e ficou grandemente restrito a um
curto período de tempo. National Film Registry em 1989. MGM/Loew´s para
MGM. 103 minutos.
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