Filme do Dia: O Guardião da Floresta (1996), Volker Schlöndorff
O Guardião da Floresta (Der Unhold, Alemanha/França, 1996).
Direção: Volker Schlöndorff. Rot. Adaptado: Jean-Claude Carrière & Volker
Schölondorff, baseado no romance Le Roi des Aulnes, de Michel Tournier.
Fotografia: Bruno de Keyzer. Música: Michael Nyman. Montagem: Nicolas Gaster & Peter
Przygodda. Dir. de arte: Ezio Frigerio, Susanne Hein, Heinz Röske & Didier
Naert. Cenografia: Bernhard Henrich &
Heinz Röske. Figurinos: Anna B. Sheppard. Com: John Malkovich, Gottfried
John, Marianne Sägebrecht, Volker Spengler, Heino Ferch. Dieter Laser, Sasha
Hanau, Ilja Smoljanski, Armin Mueller-Stahl, Caspar Salmon, Daniel Smith.
Abel (Salmon) desde criança é tido como diferente das outras. Considerado bobo, passa a ser protegido por um
garoto (Smith) que possui certas liberdades na escola. Sempre bode expiatório
de todas as indisciplinas escolares, acredita possuir poderes secretos quando
se concretizara o que ansiara, um incêndio na escola. Passa a ser fotógrafo,
especialmente de crianças, por quem nutre uma especial predileção, como por
animais. Na França da Segunda Guerra, Abel (Malkovich) é acusado por uma
garotinha (Hanau) de tê-la violado,
sendo enviado para a guerra, onde é capturado pelos soldados alemães. Com suas
atitudes exóticas, possuem certos privilégios que outros prisioneiros do campo
não tem, como se deslocar livremente até uma cabana abandonada, onde fazem
amizade com um alce, tido pela população local como demoníaco. Ganham as graças
do chefe florestal (John), que comanda as atividades no castelo. Com a morte
dos pombos que havia conseguido salvar pelos companheiros franceses, Abel se
desilude com a pátria e aceita de bom grado se tornar serviçal no castelo onde
se encontra o staff nazista. Lá, centro de treinamento infanto-juvenil da SS, torna-se
uma figura carismática entre as crianças. Com a chegada de Herman Göring
(Spengler), torna-se um de seus serviçais prediletos, seja como motorista, ou
trazendo as joias que lhe acalmam os nervos. Certo dia encontra um grupo de
meninos nas vizinhanças do castelo e os leva consigo. Sua atitude é considerada
exemplar pelo oficial da SS Raufesein (Ferch), que vê em Abel um mecanismo de
neutralizar o temor das famílias camponesas locais de terem seus filhos
arrancados do seio da família. Tal atitude não é aprovada pelo Prof. Blaettchen
(Laser), que acredita que muitos não arianos são convocados. Quando é informado
por Netta (Sägebrecht), que divide com ele as atenções as crianças, de que está
sendo considerado como ogro pelas famílias locais, Abel sente-se chocado.
Goering abandona o local após receber notícias ruins sobre o rumo que a guerra
está tomando. O mesmo destino tem o chefe florestal, que é enviado para o cambo
de batalha russo. Abel, sem que ninguém saiba, esconde no castelo uma criança
judia, Ephraim (Smoljanski). Com a proximidade do exército russo, o castelo se
transforma num verdadeiro caos. Abel tenta salvar as crianças, seja
incentivando-as a abandonarem o local, no que se torna vítima (inclusive
física) da forte resistência de alguns aprendizes, que acentuam o fato dele ser
prisioneiro francês, ou acenando com uma bandeira branca no momento em que os
russos chegam. Da mesma forma necessita matar um oficial nazista, quando esse percebe
que ele esconde o garoto judeu. Em meio a carnificina que se segue, Abel
consegue abandonar o castelo guiado por Ephraim, tendo que atravessar um imenso
pântano gelado.
Adaptado da obra
de Tournier, o filme procura trabalhar as inúmeras metáforas da obra original e
que muitas vezes não se tornam muito claras. Entre elas se encontram a
semelhança de Abel com o alce, também chamado de ogro e também sem visão, como
Abel no final e a própria semelhança de sua figura e a de São Cristóvão, e a
imagem da criança em suas costas, que transmite inocência e proteção para
aquele que a leva. Porém mais que uma
alusão limitada do sentimento cristão como livre de contradições, o que se
revela são as consequências extremamente paradoxais do amor, destituído de
ideologia, que Abel nutre pelas crianças, que se por um lado as pretende
preservar da violência da guerra, independente de suas nacionalidades, chega ao
extremo de usar de violência contra aquelas que resistem a serem levadas ao
castelo. Por sua condição de viver em um mundo quase paralelo ao que a
sociedade padrão vivenciava, Abel consegue extrair mesmo assim vantagens
impossíveis para muitos dos que se encontram inseridos nas “regras do jogo”
como a proteção que lhe proporciona atitudes que não são permitidas
aos outros alunos na época da escola ou livre trânsito quando passa a ser
prisioneiro de guerra. Superprodução que retoma certas obsessões de Schlöndorff
como as relações de poder entre crianças em ambientes fechados como internatos
(tema de O Jovem Törless, seu filme
de estréia) ou alegorias sobre a Alemanha no período da Segunda Guerra (como em
O Tambor). Falado em inglês, como
quase toda produção de alto custo que pretenda conquistar uma certa fatia do
mercado, o filme é dedicado ao cineasta Louis Malle (que também se deteve sobre
o universo infantil em um internato francês na época da guerra em Adeus, Meninos, e de quem o cineasta
foi assistente de direção). WDR/ Le Studio Canal+/FR 2/
Héritage Films/ Recorded Pictures/ Renn Productions/UFA/ Studio Babelsberg. 118 minutos.
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