Filme do Dia: O Estudante de Praga (1913), de Hanns Heinz Ewers & Stellan Rye
O Estudante de Praga (Der Student von Prag, Alemanha,
1913). Direção: Hanns Heinz Ewers & Stellan Rye. Rot. Adaptado: Hanns Heinz Ewers, baseado
no conto William Wilson, de Edgar Alan Poe e no poema de Alfred de
Musset. Fotografia: Guido Seeber. Música: Josef Weiss. Dir. de arte e
Figurinos: Robert A.Dietrich & Klaus Richter. Com: Paul
Wegener, John Gottowot, Grete Berger, Lyda Salmonova, Lothar Körner, Fritz
Weidemann, Alexander Moissi.
O estudante Balduin (Wegener) é
conhecido por ser o mais notável esgrimista de sua escola. No entanto, encontra-se desgraçado por não ter ninguém que ame. A situação se transforma
quando ele salva a Condessa Margit (Berger), por quem se apaixona perdidamente
e é correspondido. A Condessa é prometida ao seu primo, o Barão
Waldis-Schwarzenberg (Weidemann) e Balduin, como simples estudante, acredita
que não poderá disputa-la. Scapinelli, um velho conhecido por sua amizade com
os jovens, faz-lhe uma proposta irrecusável de lhe doar cem mil florins caso
ele ceda algo que se encontra em seu quarto. Como Balduin não possui nada de
valor em seu quarto, ele aceita e Scapinelli lhe rouba sua imagem. Mesmo
assustado, Balduin decide se transformar em um aristocrata e passa a freqüentar
Margit, provocando a ira da mulher que o amava há mais tempo, Lyduschka
(Salmonova), que conta tudo ao Barão. Balduin decide duelar com o Barão, mas
promete ao pai de Margit que não o matará. Porém, sua imagem mata-o. Persona
non Grata para a família Schwarzenberg, Balduin desafoga sua mágoas na
bebida e no jogo. Vai até a residência dos Schwarzenberg e explica tudo a
Margit, que acredita nele. Porém, não consegue livrar da aparição cada vez mais
insistente de sua própria imagem, assombrando igualmente sua amada. Atormentado,
tenta diversas maneiras se livrar da imagem, porém quando se acredita livre,
após atirar nela, percebe que atirou em si próprio.
Essa magnífica adaptação de Poe (o
conto seria novamente adaptado para as telas como um dos episódios de Histórias
Extraordinárias, com direção de Louis Malle), torna o filme de Rye para
alguns o precursor de um cinema de maiores pretensões artísticas na Alemanha e
igualmente pioneiro em adaptar obras da literatura universal mescladas com
elementos das lendas alemãs (como faria posteriormente Murnau). Sua atmosfera
de horror e fantástico é igualmente precursora do ciclo expressionista que terá
desdobramentos posteriores com as várias versões de O Golem, todas elas
dirigida pelo astro desse filme, Paul Wegener e por O Gabinete do Dr. Caligari
(1919), de Wiene, considerado o filme expressionista por excelência. Ao
contrários dos filmes d’art franceses, que lhe são anteriores e
igualmente preocupados em terem repercussão artística e de produções
expressionistas posteriores, como o filme de Wiene, aqui não se apela para uma
cenografia estilizada. Utilizando uma montagem bem mais dinâmica que a dos
filmes franceses e locações nas próprias ruas de Praga, sendo igualmente um
predecessor da elogiada mescla entre fantasia e realidade que impregnou muitas
das obras de Murnau, como Nosferatu. Já sua utilização das
sobreimpressões para caracterizar o elemento fantástico voltaria a ser
incorporado, com maior dramaticidade, em A Morte Cansada (1922), de Fritz Lang. Ao contrário de muitas das produções clássicas do cinema norte-americano,
que suavizaram a dramaticidade de contos fantásticos, o filme não abre
concessões ao pessimismo romântico, que é característica tanto da tradição
alemã quanto da literatura de Poe, já influenciada pelos alemães. Estreia como diretor da curta carreira de Rye, que faleceu em um acidente de treinamento
na I Guerra Mundial, apenas um ano após o lançamento desse filme. Duas versões
posteriores foram efetivadas pelo cinema alemão, em 1926 (dirigida por Henrik
Galeen) e em 1935. Deutsche Bioscope GmbH.85 minutos.
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