Filme do Dia: On the Bowery (1956), Lionel Rogosin
On the Bowery (EUA, 1956). Direção: Lionel Rogosin.
Rot. Original: Richard Bagley, Lionel Rogosin & Mark Sufrin. Música: Charles Mills. Montagem: Carl Lerner.
Essa ficção próxima do documentário encenado de Rogosin e
também seu primeiro filme é impressionante pela força que capta seus
personagens, vivendo no submundo dos biscates e do álcool numa região
tradicionalmente decadente de Nova York, assim como – e talvez sobretudo – pela
dimensão visual que empresta ao seu ambiente, magistralmente enquadrado,
iluminado e fotografado por alguém que parece ter uma familiaridade grande com
a estética da fotografia fixa. O filme acompanha alguns desses “personagens”,
sobretudo o recém-chegado Ray Sayler, que perde sua mala para um dos homens que
manteve certa proximidade e o havia auxiliado, Gorman Hendricks. O filme
acompanha momentos de Ray em bares, seja conversando e escutando casos
atentamente, seja simplesmente saindo de si e sendo agressivo para os que se
encontram próximos. O fino enquadramento com que tudo é captado desconstrói
certa percepção da vida flagrada em processo recorrente no vindouro cinema
direto, aproximando-se mais talvez dos parâmetros da etno-ficcão rouchiana,
ainda que aqui inexista qualquer intervenção mais direta do realizador que não
se restrinja ao estilo – nada como uma narração, comentário, discussão com o
mesmo. Talvez seu estilo tenha dialogado (ainda que potencialmente, dado o
desconhecimento se em alguns casos tal obra foi conhecida) menos com o próprio
documentário, ainda que indicado para o Oscar da categoria, que com a ficção emergente que dialoga com o
documentário tal como Cassavetes, reconhecido admirador de Rogosin ou os
realizadores da Nouvelle Vague. O filme constrói, sem ironia ou
sentimentalidade, uma representação da relação entre esses homens à margem de
muito do que é considerado básico, em termos sociais, como moradia ou relações
familiares e de amizade sólidas. Algo que fica patente, sobretudo, ao final,
quando Gorman ajuda Ray com dinheiro para que ele consiga abandonar o local,
porém o faz a partir da venda do próprio relógio de Ray que havia se
apropriado. Em um mundo marcadamente masculino, as mulheres não apenas tem
pouco espaço como ainda são vítimas de certa misoginia, tal como quando Ray
destrata uma mulher que acabara de conhecer em um bar, ao saírem para o que
poderia apontar ser um encontro de cunho sexual. O filme é dedicado a Gorman
Hendricks, morto pouco após sua finalização. Rogosin Films para Film
Representations. National Film Registry em 2008. 65 minutos.
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