Filme do Dia: O Gato Fritz (1972), Ralph Bakshi
O Gato Fritz (Fritz, the Cat, EUA, 1972). Direção:
Ralph Bakshi. Rot. Adaptado: Ralph Bakshi, a partir
dos personagens de Robert Crumb. Fotografia: Ted C.Bemiller & Gene Borghi. Música:
Ed Bogas & Ray Shanklin. Montagem: Renn Reynolds.
Certamente
é sua aberta alusão a sexualidade e as drogas numa dimensão talvez inédita para
um longa-metragem comercial de animação que chamou a atenção para esse filme, o
que não deixa de ser um elemento condizente com o universo dos personagens do
cartunista Robert Crumb (motivo do documentário Crumb), que curiosamente pediria para que retirassem seu nome dos
créditos. Porém, para além da alusão explícita a sexualidade, cópula e
genitália masculinas e femininas, quase num radical processo de desrecalcamento
de motivos não comumente associados com o gênero, principalmente no formato de
longa-metragem, assim como uma menção mais restrita ao uso de drogas, talvez o
que torma interessante essa animação aos olhos de hoje é o quanto ela reproduz,
através da odisseia de seu estudante politicamente motivado e obcecado por
sexo, o mesmo trajeto errático e pouco centrado de seus companheiros
contemporâneos que habitavam os filmes de ação ao vivo (Sem Destino, Electra Glide the Blue, Cada um Vive Como Quer).
Bakshi embarca, como o próprio Crumb o fizera, numa sátira aos valores do
universo hippie, ao mesmo tempo abordando questões como a racial – no desenho,
os negros são apresentados como corvos e Fritz, após motivar uma revolta na
qual morre um dos amigos que fizera em um bar no Harlem, simplesmente saia de fininho, satirizando os limites do discurso engajado da
classe média branca no momento em que o que esse provoca foge dos limites das
convenções sociais, como o do diálogo. Mesmo com toda sua iconoclastia e a
presença de uma bela trilha de canções, tanto a pretensão de apresentar
ambientes realistas já antecipa o uso do rotoscópio, como adesão na descrição
realista dos movimentos, como a seleção musical se tornam bem mais
interessantes no mais convencional American Pop (1981). Em nenhum momento, isso fica mais notório do que quando se
percebe que as fotos que acompanham os créditos finais são também as imagens
mais interessantes do filme, e é justamente colado numa iconografia do passado,
de imagens publicitárias, fotografias, filmes e canções que se constituirá a
força de seu filme posterior. Dentre as pérolas da trilha musical Bo Didley, com o próprio e Yersterdays com Billie Holliday. A
determinado momento, em meio a rebelião desencadeada por Fritz, o filme faz uma alusão satírica aos
personagens de Mickey, Minnie e Donald, vibrando com a reação completamente ensandecida e
desproporcional do governo à rebelião, fazendo uso de caças bombardeiros que
destroem a área do conflito. Talvez o
sucesso financeiro desse filme tenha proporcionado a relativa proficuidade com
que Bakshi assinaria outros longas posteriormente. Aurica Finance Company/Black
Ink/Fritz Prod./Steve Krantz Prod. para Cinemation Ind. 78 minutos.
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