Filme do Dia: O Amuleto de Ogum (1974), Nelson Pereira dos Santos

O Amuleto de Ogum (Brasil, 1974). Direção: Nélson Pereirados Santos. Rot. Original: Nélson Pereira dos Santos & Francisco Santos, a partir do argumento do último. Fotografia: José Cavalcanti, Nélson Pereira dos Santos & Hélio Silva. Música: Jards Macalé. Montagem: Severino Dadá. Dir. de arte e Figurinos: Luiz Carlos Lacerda. Com: Ney Santanna, Anecy Rocha, Jofre Soares, Maria Ribeiro, Jards Macalé, Emmanuel Cavalcanti, Erley José, Francisco Santos.
No sertão nordestino, Gabriel consegue escapar do morticínio de sua família juntamente com a mãe. Essa o leva para um ritual no qual se acredita que ele tenha ficado com o corpo fechado. Dez anos depois, o jovem Gabriel (Santanna) chega em Caxias com um carta de apresentação de seu padrinho para Severiano (Soares), bicheiro famoso por seu poder e violência. Aos poucos Gabriel é iniciado no mundo da criminalidade e sua perícia passa a ser elogiada pelo pistoleiro líder do bando, Quati (José). Porém, ao não assassinar o homem que lhe ajudara a atravessar a rua, quando finge ser cego, cai em desgraça com Quati que, irritado, dispara contra ele vários tiros e reconhece o fato de possuir corpo fechado. Com o prestígio crescente, Gabriel se vê mimado por Severiano, mas acaba desprezando-o, tornando-se amante de Eneida (Rocha), então amante de Severiano e criando seu próprio grupo de pistoleiros. Revoltado com o prestígio em declínio, Severiano e seu braço direito, o Dr. Baraúna (Cavalcanti), buscam sem sucesso através do candomblé conseguir a graça alcançada por Gabriel. Eneida, atualmente vivendo com Gabriel, o trai e revela a Severino que sua força findará com a morte de sua mãe. Os pistoleiros de Severiano pensam, equivocadamente, que a assassinaram e entram na sua casa, mas são mortos pelo mesmo. Gabriel enfrenta Severiano e o mata assim como a seus capangas, enquanto Eneida escapa.
         O que chama a atenção nessa produção é menos a investidura de uma certa visão positiva dos elementos culturais populares, num roteiro inverso ao traçado à época do Cinema Novo e ainda mais enfatizado no menos bem sucedido filme seguinte do cineasta, Tenda dos Milagres, que esses mesmos elementos serem modelados através de uma narrativa plenamente fincada nos apelos do cinema de gênero (aventura, gângster, western), em um momento em que se tornava imperativo um diálogo maior com o público. A moldura popular tem como pretexto o fato de ser uma narrativa efetuada por um cantador cego que se vê ameaçado por um grupo de marginais, daí derivando os elementos fantásticos, destacados sobretudo na ressureição final do protagonista da piscina (numa evidente alusão a Deus e o Diabo na Terra do Sol). Embora muito se fale sobre a exaltação ao elemento popular nesse momento da produção não só de Nélson Pereira, mas também de outros cineastas brasileiros, ao menos dois pontos devem ser tocados com relação à mesma. Os pais de santo retratados pelo filme tampouco se escusam de fazerem seus serviços para Severiano, demonstrando uma preocupação menor com o bem que com seus interesses financeiros e, mais importante, o herói-protagonista não possui a menor sombra de agir em nome do povo ou seja de quem for a não ser dele próprio, sendo tão sanguinário e impiedoso quanto Severiano, apenas mais ingênuo e manipulado que esse. Embrafilme/Regina Filmes. 112 minutos.

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