Filme do Dia: Leviathan (2012), Lucien Castaing-Taylor & Verena Paravel
Leviathan
(França/Reino Unido/EUA, 2012). Direção, Rot. Original, Fotografia e Montagem: Lucien
Castaing-Taylor & Verena Paravel.
Notável,
na maneira como apresenta de uma forma original, e muitas vezes longe de seguir
os padrões estabelecidos da imagem cinematográfica, centrada na dimensão humana
sobretudo para se relacionar com o que filma. Sob certo aspecto, portanto, pode
se enquadrar na algo genérica definição de uma tentativa de um olhar para o mundo virgem e não viciado que
menciona Stan Brakhage em seu célebre manifesto. Não por acaso, sobretudo inicialmente,
as imagens parecem ser verdadeiras abstrações, até que se tenha uma
compreensão mínima do que de fato signifiquem. Curiosamente, tudo é apresentado
com tecnologia de ponta – como a compacta câmera que se mescla aos peixes que
deslizam pelo depósito do barco – habitualmente utilizada para produções
documentais mais convencionais sobre o “tema”. Esse, se assim se pode dizer, é
o da pesca predatória em alto mar. Porém, se a forma maquínica com que os
peixes são cortados e jogados, assim como puxados aos milhares pelas redes de
arrasto, sugerem um modo de produção industrial demasiado longínquo de uma
épica que remeta as provações de personagens clássicos da literatura como os de
Moby Dick, de Melville ou O Velho e o Mar, de Hemingay, as
cartelas iniciais que fazem referências aos versículos bíblicos vão em sentido
oposto, do Leviatã, monstro marinho mitológico. As imagens norturnas e as
formas de captação de imagem descentradas da figura humana humana e
apresentadas de forma vertiginosa e segmentada, não ordenada em seu próprio processo,
acabam ganhando uma dimensão de um quase terror. Existe certamente uma evidente
sinalização para um quase holocausto das espécies marinhas que se testemunha.
Mas o filme não envereda pelo panfletário e sim pelo mito-poético, abdicando de
diálogos – os poucos que escutamos, de membros da tripulação do barco, sequer
possuem qualquer peso dramático – e investindo sobretudo na potencialização de
sua banda sonora, em grande parte responsável pelo penetrante efeito. As
imagens dos passáros brancos sobre a escuridão da noite se encontram dentre as
mais curiosas e distantes de uma representação convencional. Com a sua duração,
mesmo não tão prolongada, talvez parte desses efeitos se dilua e possa
igualmente se tornar um convite a dispersão ou sono para o espectador menos
alerta ou cansado. Destaque para o longo plano em que um dos marinheiros
observa a imagem da TV, que praticamente coincide com o eixo no qual se
encontra a própria câmera, e por fim cochila. Tem-se a impressão que se trata
de uma seleção diante de uma imensidão de material bruto e que, em
algumas opções, a própria câmera parece igualmente destituída de manipulação
humana na escolha dos motivos que pretende filmar. Jogada igualmente no fluxo
do indeterminado, da relação entre vida e morte, céu e oceano, que se confundem
em questões de segundos. Arrete Ton Cinema/Arrête Ton Cinema para The Cinema
Guild. 87 minutos.
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