Filme do Dia: Meninos Não Choram (1999), Kimberly Peirce


Meninos Não Choram (Boys Don't Cry, EUA, 1999). Direção: Kimberly Peirce. Rot. Original: Kimberly Peirce&Andy Bienen. Fotografia: Jim Denault. Música: Nathan Larson. Montagem: Tracy Granger&Lee Percy. Dir. de arte: Michael Shaw& Shawn Carroll. Figuinos: Victoria Farrell. Com: Hilary Swank, Chloë Sevigny, Peter Sarsgaard, Brendan Sexton III, Alison Folland, Alicia Goranson, Matt McGrath, Rob Campbell, Jeanetta Arnette.
        A jovem marginal Teena Brandon (Swank) transforma-se em Brandon Teena, um rapaz franzino. Porém, apesar da transformação possuir as fortes motivações de um caso típico de travestismo, Brandon não consegue dinheiro para fazer uma operação de mudança de sexo. Enquanto isso sai de sua pequena cidade natal, Lincoln para um lugarejo perdido no Texas, onde apaixona-se por Lana Tisdal (Sevigny) e mora com uma amiga de Lana, Candace (Goranson). Lana fora casada com um marginal perigoso, John Lotter (Sarsgaard), que ainda continua a freqüentar a casa de sua mãe (Arnette) e achar que possui direitos sobre Lana. Juntamente com o amigo Tom Nissan (Sexton III), passam a desconfiar do relacionamento afetivo entre Brandon e Lana. Para complicar a situação, Candace descobre que Brandon é, na verdade, Teena, enquanto esse é presa na cadeia local. Lana consegue retirá-la do local, não se importando sobre qual sua condição sexual. Constrangida a declarar sobre sua própria condição sexual, Brandon afirma ser um hermafrodita, sendo vítima da violência de John e Tom, que não apenas averiguam seu sexo no banheiro, como a estupram e surram posteriormente. Não dando queixa na polícia de ambos, fica comprovado que sofrera um estupro. Enquanto decide ir embora da cidade com Lana, Brandon recebe de última hora uma negativa por parte da mesma. Voltando para a casa de Candace, é  assassinada juntamente com ela por John.

          A forma extremamente convencional que o filme desenvolve sua narrativa não chega a ser grandemente empolgante, embora o crescimento do ritmo de tensão da metade para o final, quando a violência física passa a substituir qualquer relação social mais ortodoxa, garante o acompanhamento desse drama moral politicamente correto. À  heroína/mártir Teena/Brandon certamente não seria uma protagonista das mais “palatáveis” pelo público se não apresentasse um nível de elevação moral superior a da média dos que o (a) rodeiam. Também o sentimentalismo adoça uma história que não seria tão “acessível” caso descrita de uma forma mais crua, como no momento em que Lana procura Brandon para soltá-la da prisão. O mesmo pode ser dito com relação ao inevitável maniqueísmo que contrapõe as heroínas Lana e Brandon x John e Tom, como a própria encarnação da bestialidade. O retrato da decadência e vazio da pequena cidade talvez seja melhor evocado, no final das contas, que a própria verossimelhança de Swank, que ganhou inúmeros prêmios pelo papel, de traços extremamente femininos, como rapaz. Por um breve momento, na banda sonora, a presença da música do The Cure homônima ao título do filme. Killer Films/Independent Film Channel/Hart Sharp Productions – 20th Century-Fox. 118 minutos.

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