Filme do Dia: A Idade da Reflexão (1969), Michael Powell


A Idade da Reflexão (Age of Consent, Austrália, 1969). Direção: Michael Powell.  Rot. Adapotado: Peter Yeldham, baseado no romance de Norman Lindsay. Fotografia: Hannes Staudinger. Música: Peter Sculthorpe. Montagem: Anthony Buckley. Dir. de arte: Dennis Gentle. Cenografia: Bill Piggott. Figurinos: Anna Senior. Com: James Mason, Helen Mirren, Jack MacGowran, Neva Car-Glynn,  Andonia Katsaros, Michael Boddy, Harold Hopkins, Slim DeGray.
O  reconhecido pintor australiano Bradley Morahan (Mason) decide ir viver numa ilha semi-deserta da Austrália, em busca de inspiração, após um longo tempo distante da terra natal. Ele encontra uma jovem, Cora (Mirren), que se torna modelo para seus quadros. A avó  (Carr-Glynn) alcoólatra de Cora, no entanto, detesta a proximidade de ambos. Quando o amigo de Bradley, Nat Kelly (MacGowran) decide ir passar uma temporada com ele, uma série de confusões se sucedem, culminando com o roubo de suas obras e dinheiro por parte de Kelly e na posterior morte acidental da avó de Cora, quando discutia com essa. Sem impedimentos, Bradley e Cora  agora podem finalmente gozar o amor que sentem um pelo outro.

Seria injustiça, sem dúvida, compará-lo com os melhores filmes do realizador em sua longeva parceria com Emeric Pressburger. Porém fruindo-o como obra individual, sem mesmo saber de quem é a sua direção, esse filme de Michael Powell é bem mais interessante do que boa parte da produção contemporânea, ao menos em sua primeira metade. E isso, em maior medida menos por sua frágil narrativa, personagens chapados ou mesmo boa parte do elenco, do que por sua própria natureza errática. É claro que existe uma sede por explorar os corpos de seu jovem coadjuvante masculino e (sobretudo) feminino, para não falar da nudez de alguém não tão jovem (apreciada menos pelo ângulo erótico do que cômico nesse caso)  não muito distante dos nudes de pouco antes, em determinados momentos, mas nada que comprometa de fato sua atmosfera de pintor a la Gaughin que proucura a volta da criatividade se refugiando em uma ilha paradisíaca. É claro que a comparação é infame, dada a natureza informe e pouco consistente dos esboços apresentados no filme  e o próprio personagem não deixa passar em brancas nuvens a comparação, afirmando que vai para pintar não como Gauguin mas como ele próprio;  afirmação que seria verdadeira caso ele possuísse algum estilo que o demarcasse. E, em termos do próprio filme, dada a natureza despretensiosa, flertando a  todo momento mais com a comédia. Dito isso, é quando abraça de fato um viés mais cômico, a partir da inesperada chegada do amigo de Brad a ilha, que o filme vai se tornando menos interesante. Como se o senso atmosférico de sua primeira metade, em boa parte conseguido através de longas cenas sem diálogos, fosse aos poucos sendo direcionado, dado a sua crescente rarefação, para o universo do filme de gênero mais banal. A impressão que fica é que a vulgar subtrama cômica apenas surge para preencher a falta de fôlego que a narrativa inicial acaba derivando. E os cacoetes vão logo surgindo de forma previsível, menos preocupados com qualquer verisimilitude do que com o desenvolvimento da trama, seja no caso do furto e posterior desaparecimento de Net, seja ainda mais visivelmente no caso da morte da avó. Mesmo que o personagem de Brad remeta vagamente a Gauguin e seja caracterizado como muito próximo de Hemingway, foi inspirado no pintor australiano  Norman Lindsay, morto alguns meses após o lançamento do filme, através de seu romance autobiográfico. Nautilus Prod. para Columbia Pictures. 98 minutos.

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