Filme do Dia: Arsena Jorjiashvili (1921), Ivane Perestiani
Arsena Jorjiashvili (União Soviética, 1921). Direção: Ivane
Perestiani. Rot. Original: Shalva Dadiani & Ivane Perestiani. Fotografia:
Aleqsandre Digmelovi. Dir. de arte: Fiodor Push. Com: Mikheil Chiaureli, Ivane
Perestiani, Alisa Quiquodze, Nino Dolidze, Elizabed Cherqezishvili, N.
Yachmenev, Ya. Kruchinin, N. Okudjava.
Grupo de operários, do qual faz parte Arsena (Chiaruli),
trabalhador da ferrovia, passa a se reunir planejando uma ação ofensiva contra
as forças do Tzar. O grupo é descoberto pelas forças da polícia por conta de um
delator e sofre intensa repressão. Arsena consegue fugir e pouco depois provoca
um atentado no qual morre o General Griaznov (Yachmenev). Capturado, é
condenado a morte e executado.
Mesmo que beneficiado ocasionalmente pelo talento de seu
realizador para composições que ressaltam poéticas imagens em profundidade,
essa produção pioneira do cinema realizado na Geórgia se ressente grandemente
de seu caráter de propaganda. Nesse
sentido, é como se possuísse tudo o que é de caricato na produção mais célebre
de realizadores posteriores (Eisenstein, Dovjenko, Pudovkin), no que se refere
ao retrato dos “inimigos da Revolução” sem que a esse ônus se somasse o bônus
incomensurável do talento criativo na utilização da montagem e composição das
imagens. A trilha da cópia em questão, mesmo que provavelmente não original, é
marcial e pomposa e muito próxima das que foram utilizadas pelos filmes de
Eisenstein nesse quesito, mesmo que longe de possuírem o mesmo talento na sua
conexão com as imagens. A extensa contraposição entre a montagem que alterna a
diversão dos oficiais fiéis ao regime czarista com a ofensiva contra um grupo
de rebeldes liderados pelo protagonista, acuados como ratos, é herdeira de estratégias
de matriz melodramática em Griffith (desde O
Monopólio do Trigo). As cenas de perseguição ao líder se impõe com uma
bravura visual que se equivale àquela do próprio herói (das luzes que se
insinuam pelas frestas da cabana a caudalosa correnteza vizinha a cabana de
onde o herói se joga às águas para fugir dos tiros, passando pelos telhados
íngremes onde tem que se equilibrar). Desnecessária a utilização de sons e
ruídos pós-sincronizados à cópia original. Distante do arsenal de recursos
utilizados posteriormente pelo cinema de montagem soviético, encontra-se o
apelo convencional as sobreposições de imagens, na sequencia em que Arsena tem
visões ao mesmo tempo de sua amada e do líder reacionário. Destaque para a
impressionante cena em que o delator é jogado do alto de uma plataforma de
estação ferroviária e cai sob os trilhos. Como O Encouraçado Potemkin, detém-se sobre um episódio histórico que
antecipa a Revolução em mais de uma década e contemporâneo aquele retratado
pelo filme de Eisenstein (1905-6). Ao contrário daquele, no entanto, não se
“maquia” a história para se impor um final triunfante. Aqui se explora o
martírio do herói (semelhante ao de Cristo, com as mulheres que o amam a carpir
sua dor no último momento e com os algozes sem coragem de desferir
certeiramente o último tiro, que acaba sendo disparado por um oficial,
antecipando semelhante cena de Roma:
Cidade Aberta) como bravo antecipador da Revolução, procurando demonstrar
que não foi inútil o sangue derramado tanto nas suas ações ofensivas quanto – e
principalmente - em sua própria morte.
Algumas fontes o creditam como tendo apenas 50 minutos. Kinos Seqtsia/Kinos
Seqtsia of Ministry of Education of Georgia. 59 minutos.
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