Filme do Dia: Depois do Vendaval (1952), John Ford


Depois do Vendaval (The Quiet Man, EUA, 1952). Direção: John Ford. Rot. Adaptado: Frank Nugent, baseado no folhetim de Maurice Walsh. Fotografia: Winton Hoch & Archie Stout. Dir. de arte: Frank Hotaling. Cenografia: John McCarthy & Charles Thomson. Com: John Wayne, Maureen O`Hara, Barry Fitzgerald, Ward Bond, Victor McLaglen, Mildred Natwick, Francis Ford, Eileen Crowe.
      Sean Thornton (Wayne) retorna ao vilarejo natal da Irlanda disposto a comprar o terreno e a casa onde nasceu. Um dos vizinhos da propriedade, Will Danaher (McLaglen), homem rude e conhecido na região, torce o nariz para Sean. A situação piora quando Sean apaixona-se pela irmã de Will, Mary Kate, e é correspondido. Como a tradição local reza que o irmão da moça tem que assentir com o pedido, quando o pai já se encontra morto, Will nega. Irá mudar de idéia quando algumas pessoas do povoado, incluindo o padre Peter Lonergan (Bond), conspiram que somente a saída de Mary Kate possibilitará o casamento de Will com a viúva Sarah Tillane (Natwick), já que nenhuma mulher aceitaria viver com outra no mesmo teto. Will dá o seu consentimento, o casamento ocorre, mas Tillane o rejeita publicamente, provocando um conflito na relação entre Mary Kate e Sean, pois o irmão não lhe entrega o dote. Indisposto a enfrentar Will, já que foi lutador de boxe profissional e matou alguém em uma luta, Sean muda de ideia quando a mulher o abandona. Ele a busca na estação ferroviária e a leva até o irmão, iniciando uma longa briga que sela a amizade entre todos e a plena aceitação de Sean pela esposa.
     Essa produção exuberantemente fotografada e com locações de grande beleza (algumas delas na própria Irlanda) tem como mote subliminar às idas e vindas do casal protagonista, a possibilidade de paz, após um certo estranhamento, entre a modernidade e a tradição. Seu tom, suave, ligeiro e maniqueísta, assim como excessivamente sentimental, destoa das outras obras referenciais de Ford, mais complexas e ambíguas como Rastros de Ódio (1956) e O Homem Que Matou o Facínora (1962). O prolongamento do conflito, após a sua aparente resolução com o casamento de Sean e Mary Kate soa excessivo, principalmente quando se detém na briga entre Sean e Will e o efeito que provoca na pequena vila. A definitiva aceitação de Sean pela comunidade local somente se locupletará quando este finalmente decidir curvar-se aos códigos da tradição, agindo vigorosamente com a mulher (de uma forma constrangedoramente desavergonhada para os padrões politicamente corretos de hoje) e batendo-se com o irmão. Fugindo, talvez muito perspicazmente aos  clichês que associam o elemento feminino somente com a harmonia e a não-violência, apresenta Mary Kate como a pivô de toda a explosão de Sean. O cineasta pretendeu nesse filme prestar um tributo ao seu país natal e descrever, principalmente na sua primeira parte, alguns costumes e curiosidades provincianas, provavelmente extraídos de sua fonte literária. Sua cena mais evocada é a que Sean descobre Mary Kate em sua cabana e a agarra em meio ao vendaval que faz referência o título brasileiro, por sinal mais belo que o original. National Film Registry em 2013. Argosy Productions/Republic Pictures. 129 minutos.


Comentários

  1. Definitivamente, este é um dos meus filmes preferidos. Adoro-o, desde que o via na companhia de mãe e pai no começo dos anos 60. Vejo-o obrigatoriamente, ao menos uma vez ao ano, de preferência ao final do ano. Costumo brincar dizendo que "Depois do vendaval" é meu Especial de Ano Novo. Enquanto o povo vê o show do Roberto Carlos, eu me deleito com este filme de Ford, o meu diretor preferido. Também o utilizo como recurso didático, em aulas de Antropologia, para debater a questão da oposição entre modernidade e tradição; entre indivíduo e comunidade. É um filme que faz bem à alma e, logo, à saúde.

    Também é um filme que Ford desejava ardentemente realizar, desde os anos 30. A vontade de realizá-lo aumentou após a guerra. Cabe observar como o ponto de vista do diretor muda após a guerra, que ele viu de perto. Ele passa a procurar cada vez mais os paraísos perdidos e se fecha mais também em torno de um grupo fechado de amigos e colaboradores. "Depois do vendaval" soa como um manifesto pela paz. A Irlanda ancestral e mítica que ele (re)descobre é somo se fosse a terra sem males. Até a amizade entre católicos e protestantes se torna possivel.

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