Filme do Dia: Kaigenrei (1973), Yoshishige Yoshida


Kaigenrei (Japão, 1973). Direção: Yoshishige Yoshida. Rot. Original: Minoru Betsuyaku. Fotografia: Motokichi Hasegawa. Música: Sei Ichiyanagi. Dir. de arte: Akira Naitô. Com: Rentarô Mikuni, Yasuo Miyake, Akiko Kurano, Tadahiko Sugano, Masako Yagi, Yasuyo Matsumura, Kei Iinuma, Kazunaga Tsuji.
Anos 1930. Ikki Kita (Mikuni) é um radical de direita. Seu irmão mais jovem, após ter assassinado a liderança de um conglomerado financeiro, suicidou-se. Ele, por sua vez, monta um grupo de agentes para praticar um golpe de estado no país que pretende implantar uma lei marcial dando plenos poderes à figura do imperador. Embora algumas das ações sejam perpetradas com sucesso, Kita, angustiado, tortura a si próprio. Junto dele passa a morar o jovem soldado (Miyake) que  disse não ter tido coragem suficiente para praticar a ação terrorista planejada contra uma central elétrica.
Já de início, a música eletrônica, os recortes elegantes não apenas da imagem, mas no interior dessa através de objetos de cena e do cenário, trabalhados através de uma montagem seca e com o uso de lentes que destacam na imagem tanto o que se encontra excessivamente próximo quanto o mais distante (recurso utilizado por Welles e Mizoguchi e que havia se transformado em aceno de estilo gráfico cool por volta dos idos da década de 60), num preciosismo visual em direta oposição ao modo distanciado com que narra todos os eventos, dão a tônica do que se seguirá. Somar-se-á a esse arsenal de estilo barroco, fluidos movimentos de câmera, perspectivas dos personagens a partir de frestas, ventiladores ou corrimões e um particular apuro com a banda sonora – sobretudo com sons que emergem em espaços contíguos aos das imagens, antecipando, por vezes tensamente, situações – acentuando sua atmosfera misteriosa, que somente aos poucos o espectador vai tendo acesso. Seu estilo é elíptico e nada didático, pouco facilitando as informações de sua história ao espectador que, mesmo meio às cegas, certamente não ficará indiferente à bravura de seu estilo visual. Essas marcas de estilo pronunciadas, assim como clima de insubordinação e paranoia são evocativos de Sob o Domínio do Mal. Tampouco se espere que o filme se interesse sobretudo pelas ações que estão sendo planejadas – a maior parte destas fica, inclusive, apenas referida. O interesse maior aqui são os bastidores e desdobramentos psicológicos dos eventos na figura de seu protagonista e dos que a ele se encontram próximos, como familiares, militantes ou assessores. Embora ambientado na década de 1930 – algo que pouco se percebe dada a relativa atemporalidade e a aludida falta de didatismo – o cenário do militarismo radical de direita com seus complôs está temporalmente bem mais próximo das ações executadas pelo grupo de Mishima, também fiel partidário do imperador, em 1970, retratados em Mishima, sendo que o próprio escritor já havia realizado Patriotismo, adaptado de um conto seu e tendo como referência a efervescência ideológica nacionalista do período.Mesmo fazendo uso recorrente das estratégias visuais acima elencadas, o filme as dispõe de forma longe de acadêmica, surpreendendo-nos a cada momento com achados de pura poética visual, como o plano em que o protagonista se encontra em uma ponte, cujo reflexo solar transforma a imagem em contra-luz quase numa imagem em negativo. Art Theatre Guild\Gendai Eigasha para Art Theatre Guild. 110 minutos.


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