Filme do Dia: Na Estrada (2012), Walter Salles

Na Estrada (On the Road, EUA/Reino Unido/França/Brasil, 2012). Direção: Walter Salles. Rot. Adaptado: José Rivera, a partir do livro de Jack Keruac. Fotografia: Eric Gautier. Música: Gustavo Santaolalla. Montagem: François Gédigier. Dir. de arte: Carlos Conti, Martin Gendron & Hania Robledo. Cenografia: Francine Danis, Gabriela Matus & Maria Nay. Figurinos: Danny Glicker. Com: Sam Riley, Garrett Hedlund, Kristen Stewart, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen, Tom Sturridge, Steve Buscemi, Alice Braga, Amy Adams.
Sal Paradise (Riley) é um jovem aspirante a escritor que vive encontrando amigos de pretensões semelhantes e padrão de vida igualmente “desregrado” no que diz respeito a um emprego estável, ao sexo e ao uso de drogas e bebidas. É o caso de Carlo Marx (Sturridge), poeta homossexual apaixonado por Dean Moriarty (Hedlund), mulherengo errante e inverterado. Sal pega pela primeira vez a estrada para encontrar o amigo Dean, algum tempo depois do próprio Dean ter se feito conhecer, viajando para Nova York, junto a Carlo Marx, com sua nova espoa, Marylou (Stewart). As aventuras da dupla de amigos os levam a atravessar boa parte dos Estados Unidos de carro em alta velocidade, bebendo e fazendo sexo com Marylou e visitando o excêntrico Old Bull Lee (Mortensen). No meio da viagem, ele abandona Marylou para voltar para a recatada dona de casa de classe média Camille (Dunst). Ou ainda quando tenta rever o amigo e gera a sua própria separação de Camille.   E ainda quando completamente duros, Dean faz sexo com um homossexual mais velho (Buscemi) em troca de dinheiro. Noutra ocasião, a dupla realiza uma última viagem juntos, ao México, onde Moriarty, conhecido por pensar somente em si próprio, abandona Paradise a sua própria sorte, febril, e ainda levando quase todo seu dinheiro.
Mesmo longe de possuir o frescor de seu original literário, tampouco dotado de qualidades estilísticas notáveis ele próprio, o filme de Salles demonstra ser mais bem sucedido que outra adaptação recente da literatura beatnik, o igualmente referencial – e reverenciado – Uivo. Talvez o que mais aproxime o filme da obra em si seja suas paisagens, descritas de forma semelhantemente agridoces, através da magnífica fotografia de Gautier. A própria riqueza da trivialidade efêmera dos contatos humanos que atravessa a obra de Keruac certamente se perde no centramento na relação, de forte conotação homo-erótica, entre Sal e Dean. Dadas as disposições e exigências que tal produção se propôs, inclusive evidentemente em termos de retorno financeiro, entende-se que a postura do filme se encontre longe de qualquer tom libertário; e como sê-lo mais de meio século após o lançamento do livro, mesmo em tempos tão politicamente conservadores? Salles consegue fugir, relativamente, da reprodução dos tipos célebres revividos pelo cinema de forma quase sempre colegial-didática como faz Uivo e tantos outros. E até mesmo instilar certo pathos na relação entre amigos e no encontro final, no qual um estiolado  Dean mendiga atenção de Sal; seus encontros esporádicos e com  elipses temporais razoáveis faz com que, a depender da ocasião, situações invertidas de maior ou menor estabilidade ocorram. Porém ele falha talvez no que seja mais tocante na obra literária: o registro do fugidio fluxo da vida, sobretudo quando o ritmo dos contatos humanos é marcado pela aleatoriedade da estrada e de quem se encontra nela. MK2 Prod./American Zoetrope/Jerry Leider Co./Videofilmes/France 2 Cinéma para IFC Films/Sundance Selects. 137 minutos.


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