Filme do Dia: O Homem Que Matou o Facínora (1962), John Ford


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O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valence, EUA, 1962). Direção: John Ford. Rot. Original: James Warner Bellah & Willis Goldbeck, baseado no argumento de Dorothy M. Johnson. Fotografia: William H. Clothier. Música: Cyril J. Mockridge & Alfred Newman. Montagem: Otho Lovering. Dir. de arte: Eddie Imazu & Hal Pereira. Cenografia: Sam Corner & Darrell Silvera. Figurinos: Edith Head & Ron Talsky. Com: James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin, Edmond O’Brien, Andy Devine, Ken Murray, John Carradine, Jeanette Nolan, John Qualen, Woody Stroode, Denver Pyle, Lee Van Cleef.
Ransom Stoddard (Stewart) retorna como senador, juntamente com a esposa Hallie (Miles)  a pequena cidade do Oeste para os funerais do amigo Tom Doniphon (Wayne). Sob a insistência do editor do Shinborne Star, o jornalzinho local, ele revela o motivo da visita ao funeral de um homem simples. Ransom relembra quando chegou na cidade, antes da ferrovia ser instalada, quando imperava a lei do mais forte, na figura dos durões Doniphon e Liberty Valance (Marvin). Situação que é agravada pela presença do desmoralizado xerife Link Appleyard (Devine). Valance rouba a diligência em que Ransom chegava, como advogado e o surra. Acolhido por Doniphon, é amparado pelo casal Nora (Nolan) e Peter Ericson (Qualen) e sua empregada Hallie. Ransom, mesmo enfrentando forte resistência, muda  os hábitos da população, iniciando um trabalho de alfabetização para crianças e adultos e desenvolvendo uma consciência política que vai de encontro ao interesse dos grandes latifundiários, para quem Liberty trabalha, tendo o apoio do então editor do Shinborne Star, Peabody (O’Brien), que publica matérias contra os latifundiários e Valence. Logo a represália de Valence ocorre, surrando quase até a morte Peabody e intimando Ransom para um duelo. Inicialmente pensando em fugir ele acredita ter matado Liberty Valence. Doniphon percebe que Hallie está apaixonada por Ransom e desiste dela. Indicado como representante político local, Ramson pensa em desistir quando é acusado de criminoso por seu rival, representante da classe latifundiária, Cassius Starbuckle (Carradine), mas muda de idéia quando sabe da boca de Doniphon, que fora ele, com o apoio de Pompey, que matara Valence. O atual editor do Shinborne prefere não desmentir a lenda sobre o homem que matara Liberty Valence. No trem, retornando para Washington, Ransom afirma que pretende voltar a morar no vilarejo, contando com o firme apoio de Hallie.
Um dos maiores filmes de Ford, do gênero western e do cinema americano. O cineasta consegue, com rara e tocante perspicácia, retratar a passagem do oeste bravio para um mundo “civilizado” através de arquétipos perfeitamente verossímeis, tanto por parte dos personagens (magnificamente interpretados por um elenco irrepreensível), como nas constantes oposições assinaladas entre um mundo “primitivo” oposto ao “civilizado” (diligências x locomotivas, flor de cacto x rosa, deserto x jardim, etc.) que foram motivo de um célebre artigo de Peter Wollen. O personagem vivido por Wayne é, de longe, o mais intrigante, com toda sua carga de ambiguidade, ao mesmo tempo feliz por Ransom ter ensinado o alfabeto a Hallie, mas de certe forma antevendo melancólico sua obscuridade, após a substituição do mundo gerido pelos mais fortes pelo das leis formais. Pesa sobre o casal Stoddard a consciência de que Ransom é menor que sua própria lenda (enfatizada na seqüência final, no trem, em que a conversa do casal é interrompida pelos usuais comprimentos ao matador de Valence, deixando-os constrangidos.) Mesmo que a influência dos personagens individualmente tenha sido fundamental como “elemento civilizador”, o cineasta não deixa de frisar (através da voz do próprio Ransom) o peso que mudanças estruturais provocaram – a cidade, sua história e suas lendas (como a que dá título ao filme) divide-se em antes e depois da ferrovia. O caráter épico de Ford, intimamente associado as lendas e a história de seu país e, particularmente, a ambigüidade de Tom Doniphon reflete-se em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e no personagem de Antônio das Mortes, particularmente. National Film Registry em 2007. Paramount Pictures. 122 minutos.

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