Filme do Dia: Além da Linha Vermelha (1998), Terrence Malick
Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, EUA, 1998). Direção:
Terrence Malick. Rot. Adaptado: Terrence Malick, baseado no romance de James Jones. Fotografia: John Toll. Música: Hans Zimmer. Montagem: Leslie Jones, Saar
Klein & Billy Weber. Com: Jim
Caviezel, Sean Penn, Adrien Brody, Ben Chaplin,
George Clooney, John Cusack,
Woody Harrelson, Elias Koteas,
Jared Leto, Nick Nolte, John C. Reilly, John Savage,
John Travolta, Polyn Leona, Penelope Allen, Sam Rockwell.
O soldado James Witt (Caviezel), vive
paradisiacamente em uma ilha melanésia, após ter desertado pela terceira vez do
Exército Americano, na II Guerra Mundial. Junto com ele se encontra um amigo
(Brody). Ambos voltam a ser incorporados pelo Exército, sendo enviados, sob as
ordens do Sargento Welsh (Penn), para uma patrulha que efetuará uma missão
difícil. Confrontado com Welsh, Witt afirma que só sentia identificação com a
Patrulha Charlie, para onde fora designado da primeira vez. Introspectivo, Witt
se define, no entanto, como “mais homem” que Welsh e que conseguirá se sair bem na nova
missão que esse lhe confiou. A missão é tomar uma colina em Guadacanal, onde se
encontra inserido um bunker japonês, local privilegiado de observação da área.
No comando da missão se encontra o Coronel Gordon Tall (Nolte), que designa um
primeiro pelotão liderado pelo capitão Staros (Koteas). Enfrentando uma
dificuldade maior que a prevista, Staros entra em conflito com o Cel. Gordon
por acreditar que o ataque deve ser feito pelos flancos e não diretamente como
proposto. Mesmo enfurecido, o Cel. concorda
com a vaga menção de Staros de enviar o caso para uma corte militar. Na
ofensiva muitos soldados são feridos ou mortos, entre eles o Sargento Keck
(Harrelson), que explode o próprio traseiro, enquanto o capitão John Gaff
(Cusack) leva heroicamente auxílio a um jovem que estertora próximo da morte.
Um grupo de sete homens é designado para avançar e dar as coordenadas para que
o bunker possa ser destroçado. A operação é realizada com sucesso. Os japoneses
se tornam prisioneiros. Witt observa tudo com seu habitual caráter
contemplativo, ao mesmo tempo buscando forças na sua fé religiosa e no amor que
deixou nos EUA, sua esposa (Allen). O Cel. Gordon alcança ele e afirma que
Staros havia exagerado na dificuldade da missão. Staros afirma que pretendia
salvar a vida de seus soldados e pergunta se o Coronel já segurara alguém
morrendo nas mãos. Irritado com a afronta e o caráter pouco agressivo de
Staros, esse dispensa-o e anuncia que, antes de continuarem a investida, os
soldados terão uma semana de folga. Staros se despede da patrulha, que lhe
agradece seu zelo. Witt se recorda da morte da mãe. Recebe uma carta da esposa
afirmando que pretende se divorciar, já que não consegue mais viver só. Completamente perturbado, se encontra com
alguns companheiros, inclusive com Welsh, que volta a troçar de sua
espiritualidade, perguntando se ele ainda acredita em uma luz que vem do além.
Ao retornarem ao campo de batalha, o pelotão de Witt se encontra no local
errado. Assumindo o lugar de um outro soldado com os nervos mais abalados, Witt
vai com outro soldado. Porém encontram um grupo de japoneses e Witt é morto, ao
se recusar a se render e tornar-se prisioneiro de guerra. Welsh, emocionado,
pergunta aonde se encontra a luz divina de Witt.
Com extrema sensibilidade e poesia,
Malick realizou um épico em que, mais que as cenas de batalha ou as estratégias
de guerra, é o interior dos soldados que ele pretende devassar. Explorando
rostos que expressam mais angústia, insegurança, terror e sofrimento do que
heroísmo e bravura, o filme, embora não se centre em um personagem principal de
início, acaba se revelando uma viagem espiritual e humanista sob o prisma de
Witt. O filme é tocante e uma experiência quase mística, onde o homem é sempre observado em uma natureza muito maior
que ele, que o alimenta de esperança - as cenas da luminosidade do sol sobre os
galhos da floresta tropical exuberantemente fotografados por Toll - ao mesmo
tempo que o dilacera Seu ritmo reflexivo e seu teor semi-bíblico, assim
como a contraposição/simultaneidade entre a força espiritual e fragilidade
material, representada pela perspectiva respectivamente de Witt e Welsh são
tocantes. Sua sensibilidade e franqueza chegam a soar até embaraçosas,
lembrando uma perspectiva semelhante realizada por Oliver Stone em um curta
amador sobre um veterano do Vietnã. A interpretação magnífica de Caviezel, com
seu olhar expressando grande profundidade e tensão, torna muitos dos monólogos
interiores desnecessários. Por outro lado, o caráter visionário da obra não
pode deixar de ser associado a Apocalipse
Now (1979) de Coppola e, se os primitivos eram tidos como exemplo de
loucura e insanidade, aqui são mais próximos da redenção e do paraíso, apenas
comprovando a impossibilidade de ambos lidarem com o “exótico” em uma relação
de igualdade. Como em Cinzas do Paraíso
(1978), Malick muitas vezes interrompe a narrativa, para destacar animais e
árvores, contrapondo-os aos conflitos e batalhas entre os humanos. Tão ou mais
abstrato que seu filme anterior - muitas cenas de natureza, com ou sem a
presença humana, lembrem o caráter
visionário de Herzog em filmes como Aguirre
- possui também a mesma característica de apresentar um talento de veia tanto
literária quanto extremamente visual. Malick produz um cinema bem diverso do
habitual nos EUA e, mesmo que utilizando um gênero tradicional, o do filme de
guerra, parece mais interessado em subjugar tais elementos de gênero a sua
própria perspectiva que o oposto, como por exemplo, lidando com material
semelhante fez Spielberg em O Resgate do
Soldado Ryan (1998), dentro tanto dos cânones do gênero como do ideário do
“sonho americano” como um todo. Geisler-Roberdeau/ Fox 2000 Pictures/ Phoenix Pictures 170 minutos.
nice post..
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