The Film Handbook#13: Walt Disney

Walt Disney
Nascimento: 05/12/1901/Chicago, EUA
Morte: 15/12/1966, Los Angeles, EUA
Carreira (como diretor): 1920-66

Embora seja verdade que poucos dos filmes descritos como "Um filme de Walt Disney" sejam, de fato, animados ou dirigidos pelo próprio Walt, tais como sua visão criativa e seu controle sobre os artistas que trabalharam para ele que sua definição de autoria poderia se estender até mesmo para os produtos da Disney lançados após sua morte. Mesmo nunca tendo sido um grande artista, sua perspicácia para os negócios e compreensão do gosto do público tornam-o um grande contribuidor ao entretenimento e folclore populares.

O jovem Walter Elias Disney deliciava-se em desenhar animais e após trabalhar como ilustrador comercial, entrou no mundo do cinema com as séries Alice in Cartoonland e Oswald the Lucky Rabbit. Porém foram as Silly Simphonies e Mickey Mouse que o puseram no caminho da fama e da fortuna: um inovador técnico, ele fez os primeiros desenhos animados a fazerem uso do som (O Vapor Willie/Steamboat Willie>1, A Dança dos Esqueletos/The Skeleton Dance) e Technicolor (Flores e Árvores/Flowers and Trees). Pouco tempo depois, um estilo amadurecido foi muito evidenciado e a animais bonitinhos (Mickey e Minnie, o Pato Donald, os cachorros Pluto e Pateta) foi geralmente dadas características humanas (a voz guinchada de Mickey sendo suprida pelo próprio Disney - e um otimismo todo americano). De fato, ao contrário dos talentos mais anárquicos que trabalhavam na Warner e MGM (Tex Avery, Chuck Jones, Frank Tashlin, Friz Freleng e Bob Clampett) após umas poucas excursões em fantasias irrestritas - The Skeleton Dance possui esqueletos tocando música nos ossos uns dos outros - Disney evitava o potencial da animação para se concentrar em uma forma antropomórfica e petrificada de realismo cotidiano.

Em 1934, ele iniciou o trabalho em Branca de Neve e os 7 Anões (Snow White and the Seven Dwarfs)>2, o primeiro desenho animado em longa-metragem; reduzindo o tom macabro do conto de fadas a momentos isolados de terror expressionista, Disney situou sua esfuziante e saudável heroína em um mundo róseo povoado por belos pássaros, animais tímidos e divertidos anões. Um hercúleo e caro tour-de-force técnico, foi um grande sucesso e encorajou Disney, após Pinóquio (Pinocchio) a tentar algo mais artístico com Fantasia>3. Porém essa criação de imagens e histórias a partir de peças de música clássica bastante populares resultou menos em algo de alta cultura que kitsch. Enquanto  as formas flutuantemente abstratas utilizadas para ilustrar Bach e um Mickey comicamente incompetente como "Aprendiz de Feiticeiro" foram, respectivamente, encantador e divertido, Beethoven e Stravinsky sofreram de uma descrição pretensiosa e irremediavelmente vulgar dos habituais seres antropomorfizados em paisagens míticas.

O filme foi um relativo fracasso e Disney voltou-se para a já testada fórmula de histórias infantis, narradas em ambientes magicamente épicos e  ricamente coloridos. Seus talentos narrativos e habilidade para extrair pathos de um universo concebido como panteísta contribuíram para o sucesso comercial e animação previsível de filmes como Dumbo>4 (em que um bebê elefante de longas orelhas vence a intolerância voando), Bambi (o próximo amigo da floresta), Cinderella, Peter Pan, Alice no País das Maravilhas (Alice in the Wonderland), A Dama e o Vagabundo (The Lady and the Tramp) e A Bela Adormecida (Sleeping Beauty)>5 (adolescentes puros dos anos 50 ameaçados por uma feiticeira atrativamente malévola e grotesca).O perfeccionismo de Disney resultou em técnicas ainda mais sofisticadas, mas sua conservadora moralidade branca anglo-saxã e insípido sentimentalismo, resultaram com frequência em estereótipos racistas, impedindo-o de se tornar um artista profundo ou verdadeiramente inovador.

Por essa época, o enormemente bem sucedido império de Disney realizava documentários sobre a natureza e longas-metragem de ação ao vivo caracterizados, como os desenhos animados, por um populismo insípido promotor do modo de vida americano; enquanto seu sagaz talento para negócios colhia mais lucros de empreendimentos não fílmicos tais como programas de televisão, artefatos de Mickey Mouse e a Disneylândia. Alguns esforços foram realizados nos anos 60 para atualizar um pouco a imagem de Disney - o açucarado Mary Poppins combinava animação com ação ao vivo, enquanto Mogli, O Menino Lobo (The Jungle Book) e Os Aristogatas (The Aristocats) foram menos sentimentais e genuinamente mais espirituosos que os desenhos animados anteriores - porém foi somente após muitos anos da morte de Disney que o estúdio finalmente conseguiu se orientar ao mundo adulto contemporâneo produzindo, através de sua subsidiária Touchstone, filmes como Um Vagabundo na Alta Roda (Down and Out in Beverly Hills, A Cor do Dinheiro (The Color of Money) e Tin Men, Os Rivais (Tin Men). Walt provavelmente não teria aprovado.

A ideologia reacionária de Disney se estendeu ao seu controle patriarcal à família do estúdio, e realizadores chaves como Ub Iwerks e Ward Kimball raramente obtiveram o crédito que mereciam. De fato, suas práticas de negócios e crescente abordagem complacente ao meio escolhido sugerem tanto um egoísmo pessoal quanto uma indiferença conservadora e tímida ao rico potencial da animação.

Genealogia
Disney, cuja carreira na animação se iniciou pouco após a de Max e Dave Fleischer, raramente se equipara a anarquia surreal de Avery, Jones ou Clampett, nem tampouco observou uma animação mais experimental, não americana; sua obra é virtualmente um gênero em si própria. Sua influência é talvez mais fortemente sentida em realizadores de ação ao vivo como Spielberg e as superficialmente sofisticadas técnicas de animação de Don Bluth.

Leituras Futuras
The Disney Version (Nova York, 1968), de Richard Schickel e The Art of Walt Disney (Nova York, 1973), de Christopher Finch

Destaques
1. O Vapor Willie, EUA, 1928

2. Branca de Neve e os 7 Anões, EUA, 1937

3. Fantasia, EUA, 1940

4. Dumbo, EUA, 1941

5. A Bela Adormecida, EUA, 1958

Texto; Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 81-3.

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