Filme do Dia: Moolaadé (2004), Ousmane Sembene
Moolaadé
(Senegal/França/Burkina Faso/Camarões/Marrocos/Tunísia, 2004). Direção e Rot.
Original: Ousmane Sembene. Fotografia: Dominique Gentil. Música: Boncana Naiga.
Montagem: Abdellatif Raïss. Dir. de arte: Joseph Kpobly. Com: Fatoumata
Coulibaly, Maimouna Hélène Diarra, Salimata Traoré, Dominique Zeïda, Mah
Compaoré, Aminata Dão, Stéphanie Nikiema, Mamissa Sanogo.
Num vilarejo muçulmano senagelês regido pela tradição e pela
força do patriarcalismo, a ousada Collé (Coulibaly) consegue dividir a
comunidade, com sua acolhida a quatro meninas que iam ser “purificadas” numa
cerimônia de castração, algo que já havia suscitado quando decidira que sua
filha adolescente, Amasatou (Traoré) não seria castrada. Ainda que Amasatou
tenha sido prometida ao bem sucedido membro da comunidade recém-chegado de
Paris, o casamento é proibido por seu pai, por conta da garota não ser
purificada. Para refugiar as meninas, Collé invoca a Moolaadé, rito sagrado que
impede as sacerdotisas de entrarem em sua casa à força. Humilhada publicamente
pelo cunhado, ferveroso tradicionalista, sendo a surra interrompida apenas pela
intervenção de Mercenaire (Zeïda), comerciante local que no dia seguinte é
morto. Uma das crianças na hora da punição de Collé sai de casa e é seqüestrada
pela própria mãe para o ritual da purificação vindo a morrer no mesmo. Os
homens, temerosos da perda de seu poder, apreendem todos os rádios das mulheres
e os queimam na fogueira. As mulheres, ainda revoltadas com a morte de mais uma
criança, rebelam-se em grupo e conseguem se impor no direito de não serem mais
vítimas da castração. Ao mesmo tempo o “francês” desafia o pai, afirmando seu
direito de se casar com Amasatou.
Com um grande domínio narrativo, Sembene, um dos mais
influentes cineastas africanos, consegue esse empolgante retrato sem meios tons
da opressão da condição feminina numa sociedade tradicional. Progressivamente
manipulativo em termos emocionais e maniqueísta em sua contraposição entre as
trevas da tradição em relação às luzes trazidas pela civilização dos meios
midiáticos, contraposição que é selada na última imagem do filme em que o
centenário ovo da avestruz que encima o templo local é substituído por uma
antena de televisão, o filme finda com uma reviravolta e afirmação da condição
feminina um tanto quanto inverossímil diante de tudo o quanto antes fora
apresentado. Nada disso impede que o filme traduza um comovente retrato da
situação de submissão da mulher e de seus mecanismos vários de resistência,
ainda que ao focar seus conflitos
somente nas diatribes entre os gêneros, Sembene relegue a marginalidade
qualquer outra fonte de compreensão da comunidade em questão, como as relações
econômicas. Ciné-Sud Promotion/Centre Cinematographique
Morocain/Cinétéléfilms/Direction de la Cinematographie Nationale/Filmi
Domireew/Les Films Terre Africaine. 100 minutos.
Comentários
Postar um comentário