Filme do Dia: O Grito da Mocidade (1936), Raul Roulien
O
Grito da Mocidade (Brasil, 1936). Direção: Raul Roulien. Rot. Original: Raul
Roulien, sob argumento de Henrique Pongetti. Fotografia: William Gericke.
Montagem: Raul Roulien. Com: Raul Roulien, Conchita Montenegro, Jaime Costa,
Orlando Brito, Manoel Pêra, Conchita de Moraes, Jorge Murad, Manoel Rocha.
Raul Melo (Roulien), mais conhecido como Gaiola, é um
frívolo e desinteressado acadêmico de medicina, apaixonado pela dedicada
enfermeira Estela (Montenegro). Vive em meio aos amigos, também acadêmicos,
Gonçalves, Adalberto, Marca-Passo e Ramos. Uma amiga de Estela, a também
enfermeira Laurinha se apaixona e fica grávida de Adalberto, que não demonstra
interesse em assumir o compromisso. Preocupado com a tosse incessante de
Estela, Raul marca a festa de casamento, porém Estela piora no dia da festa de
formatura. Internada e cercada por amigos, Estela abençoa a união entre
Adalberto e Laurinha. Um acidente de trem que trazia a mãe de Raul, faz que
esse, com a ajuda de uma Estela acamada, salvem a vida da mãe e conquistem
prestígio profissional a Raul. Estela, porém, falece. Raul, anos depois, a
partir de uma posição de liderança na medicina, orienta novos acadêmicos.
Primeiro filme dirigido por Roulien, após uma breve carreira
como galã hollywoodiano, onde já se fazem patentes muitas das motivações e
estratégias dramáticas presentes no mais elaborado e bem sucedido junto ao
público e a crítica Aves sem Ninho
(1939). Aqui já se encontra um populismo patriótico de contornos quase
fascistas, presente na procissão dos estudantes com tochas acesas louvando à
pátria. Ou ainda, entremeado forçosamente entre um momento de idílio amoroso
vivido pelo par principal, quando ocorre quase um pequeno documentário com imagens
de algumas atrações do Rio de Janeiro. E, ainda mais fortemente uma certa ode
ao sofrimento, e mesmo a morte, como provas que os heróis devem passar para
almejarem o amadurecimento que os tornará lideranças morais/profissionais. Como
em Aves sem Ninho, é igualmente a
figura feminina que provocará a redenção da frivolidade do par masculino, lá
como aqui um acadêmico de medicina. Igualmente como nesse filme, a uma grande
ojeriza à figura de autoridade, representado tanto pelo hipócrita dono do
hospital quanto na masculina chefe das enfermeiras, contrabalançada aqui pela
liderança “natural” e nada arrogante dos “verdadeiros líderes” representada
pelo mestre-cirurgião que aconselha Gaiola, figura que será representada pelo
próprio Gaiola ao final do filme, dirigindo-se para um grupo de jovens
acadêmicos e – posteriormente – para o próprio espectador. Ou seja, selando no
personagem o elo de passagem dos valores mais caros de uma geração que lhe
antecedeu para outra subseqüente. Aliás, esse discurso proselitista final será
reproduzido, sem maiores modificações, na boca da Vitória vivida por Déa Selva
em Aves sem Ninho. Aqui também
existe uma tentativa de humor incorporada sobretudo na figura do motorista
negro apesar de que a narrativa torne-se bem mais dispersiva quando se aventura
por subenredos de tinturas pateticamente melodramáticas, como a do vendedor de
laranjas português ou da criança branca “salva” das mãos de uma mãe negra,
tragicamente atropelada. D.F.B. 90 minutos.
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