Filme do Dia: La tierra quema (1964), Raymundo Gleyzer
La Tierra Quema (Argentina, 1964). Direção,
Rot. Original e Montagem: Raymundo Gleyzer. Fotografia: Rucker Vieira.
Curta interrompido, como Cabra Marcado para Morrer de Coutinho,
pela eclosão do regime militar no Brasil. A influência do Cinema Novo, na luz
estourada, e particularmente na evidente referência a Vidas Secas tampouco ocultam suas diferenças com a produção
brasileira equivalente contemporânea, demarcada sobretudo pela necessidade de
um tom didático mais acentuado, já que dirigida para o público argentino. E por
um caráter de encenação que soa por demais artificioso, através do uso de voz over como canal de expressão para os
“diálogos”, mais próximos de um monologismo também vinculado a obra de Nélson
Pereira dos Santos, assim como ao original de Gracialiano Ramos. Há um aberto
choque entre tais vozes encenadas e o caráter bem mais realista das imagens
captadas. Não menos artificiosas são as cenas em que marido e mulher “capinam”
na terra árida. Seu caráter de aberta contestação, surge na voz de um narrador
que exclama sobre a “vergonha das Américas” que é o Polígono das Secas e os
dados estatísticos aterradores sobre o número de mortos diariamente. Sua banda
sonora ainda inclui uma soturna e pouco original trilha incidental composta
especificamente para o filme e uma canção de apelo religioso que fala em Jesus
e parece ser posta em cheque pela última imagem do filme, de um criança a virar
pelo avesso a imagem tradicional do mesmo, enquanto apelo simbólico para a
recusa do fatalismo conformista propiciado pelo consolo da crença religiosa.
Ainda que a maior pretensão do filme seja a de denúncia, tampouco Gleyzer
descura de algumas imagens de forte apelo estético, como o plano de uma
plantação. Não é improvável que seu título faça uma referência ao clássico
neo-realista A Terra Treme (1947),
de Visconti. 12 minutos.
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