Filme do Dia: O Desprezo (1963), Jean-Luc Godard

O Desprezo (Le Mépris, França/Itália, 1963). Direção: Jean-Luc Godard. Rot. Adaptado: Jean-Luc Godard, baseado no romance Il Disprezzo, de Alberto Moravia. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Georges Delerue. Montagem: Agnés Guillemot & Lika Lakshmanan. Figurinos: Janine Autre. Com: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Giorgia Moll, Fritz Lang.
             Paul Javal (Piccoli) é um roteirista que vive um momento de crise com sua esposa, Camille (Bardot) na produção de uma adaptação da Odisséia por Fritz Lang (Lang), a ser rodada na Itália. Inseguro da relação desenvolvida entre Camille e o produtor do filme, Jeremy Prokosch (Palance), ele passa a uma postura defensiva, recusando-se a escrever o roteiro e sendo gradativamente desprezado por Camille, que parte com Jeremy. O  casal morre em um acidente na auto-estrada, enquanto Paul despede-se de Lang, com planos de retornar à Roma e escrever para o teatro.
      Godard, característica já prenunciada em Acossado (1959) e melhor desenvolvida em O Demônio das Onze Horas (1965), parece se importar menos com a narrativa em si que em apresentá-la como um entre outros elementos que pretendem expressar os temas que toca. Ao mesmo tempo faz uso de referências literárias e reproduz aspectos dos personagens da Odisséia no próprio filme, fazendo também alusões ao próprio meio cinematográfico e a difícil relação entre criação artística e produção industrial (o personagem do produtor é uma caricata alusão a um dos próprios produtores do filme, Carlo Ponti). Destaca-se a beleza irrepreensível e moderna dos enquadramentos, das locações fotográficas, da singular fotografia e da trilha de Delerue (habitual colaborador de Truffaut) que, longe de serem apenas um elemento ornamental e gratuito, são  decisivos para a plena organicidade e a atmosfera densa e sombria do filme. Não há como não perceber ecos de Viagem à Itália (1953), de Rossellini, nessa jornada existencial que não descuida de relacioná-la com a preocupação material – Javal só pretende aceitar o roteiro do filme se for para conseguir o apartamento para Camille. Godard (como assistente de Lang) e seu cinegrafista Coutard (vivendo o cinegrafista do filme dentro do filme) aparecem brevemente. Comnpagnia Cinematografica Champion/Les Films Concordia/Rome Paris Films.  105 minutos.


Comentários

  1. Lendo seu texto, percebo que assisti a esse filme cedo demais, sem bagagem fílmica e de vida suficiente para compreendê-lo.

    ResponderExcluir
  2. é curioso você se referir dessa forma, Gustavo, pois tenho a mesma sensação com relação a essa resenha, que foi escrita há já algum tempo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso