Filme do Dia: 1860 (1934), Alessandro Blasetti
1860
(Itália, 1934). Direção: Alessandro Blasetti. Rot. Adaptado: Alessandro
Blasetti, Emilio Cecchi & Gino Mazucchi, a partir do conto de La Processione Incontro a Garibaldi, de
Mazucchi. Fotografia: Anchise Brizzi & Giulio De Luca. Música: Nino Medin.
Montagem: Alessandro Blasetti, Ignazio Ferronetti & Giancito Solito. Dir.
de arte: Vittorio Cafiero & Angelo Canevari. Cenografia: Tulio Gramantieri.
Figurinos: Vittorio Nino Novarese. Com: Giuseppe Gulino, Ainda Bellia,
Gianfranco Giachetti, Mario Ferrari, María Denis, Ugo Gracci, Vasco Creti, Totó
Majorana.
Carmine (Gulino) é mais um dos camponeses oprimidos pelo
regime bourbon na Sicília que se engaja na luta com outros garibaldinos contra
as forças da monarquia e em defesa da república. Sua devotada esposa, com quem
recém-casou, Gesuzza (Bellia), que o acompanha para onde vai, fica desesperada
quando descobre que ele é o enviado ao nordeste italiano, por seu próprio
sogro, para levar notícias sobre a situação calamitosa na Sicília, que não
conseguirá ressistir mais que alguns dia, se não tiver a liderança de Garibaldi
e o apoio de suas tropas por lá. Após uma decisão inicial de ir a outro local,
Garibaldi decide por partir para a Sicília, para o júbilo dos revoltados
sicilianos. Carmelo se engaja no exército e após um sanguinário combate,
comemora com Rosuzza a expectativa de paz e de construção de uma vida nova.
A primeira metade desse filme talvez se encontre como a mais
inspirada realização do celebrado Blasetti. Nela Blasetti reconstrói sobretudo através do
aspecto visual, de cores predominantemente esbraquinçadas, a crítica situação
dos rudes campesinos da Sicília. A ausência de trilha musical convencional,
substítuida a determinado momento por cantos patrióticos e a relativa ausência
de sentimentalismo se somam a fluidez visual de seu trabalho de câmera, um
afinado senso de enquadramento e a modesta e virtuosa absorção de efeitos
oriundos das vanguardas da década anterior, presentes em momentos como o que
Carmelo parte sozinho de canoa, e o observamos por trás e por frente, a partir
da opção de montagem para a cena (Blasetti, foi co-montador do filme). Tampouco
se pode esquecer o pathos conseguido
no momento da despedida e a facilidade espontânea com que a lágrima desce sobre
o rosto de Rossuza. Tudo, de certo modo, da utilização da paisagem, passando
pelo uso de dialetos e línguas estrangeiras (alemão, francês) em respeito a
fala original dos personagens, assim como o uso de um protagonista amador que
não voltaria a efetivar outro filme, solução bastante tão interessante a seu
modo, quanto a de Ladrões de Bicicleta
(1947), de De Sica, acabam por emprestar a suas limitações dramáticas uma franqueza,
sobretudo em seu sorriso, dificilmente conseguida por atores profissionais, o
mesmo valendo para sua esposa, antecipando algumas das soluções mais festejadas
pelo ciclo neo-realista do pós-guerra. Dito isso, infelizmente o filme não
consegue manter a sua vivacidade até o final, tornando-se crescentemente
convencional, inclusive em sua função de propaganda – é mais que evidente a
analogia entre a figura proscrita de Garibaldi e sua proposta de ditadura sob
as benesses da monarquia e Mussollini – por mais que tampouco tenha agradado a
maior parte dos fascistas, incomodados com os tons “demasiado realistas” com
que Blasetti descreve a sua Sicília, repleta de construções que remetem a
presença de um modo de vida arcaico, com suas calças cobertas por couro
semi-cru e casas de pedra. Destaque para o modo exclusivamente vitimizado com
que os sicilianos são descritos, convidando o espectador a se tornar simpático
a causa deles, já desde o início, com o cruel assassinato do garoto irmão de
Gesuzza e nunca apresentados em atitudes mais ofensivas como, por exemplo,
examinar os corpos pelo chão e espetá-los com lanças, como os rivais. A “garantia” nos créditos iniciais de uma
“direção artística” a cargo do realizador,
supõe, ao menos em termos de Itália, semelhante prestígio ao vivenciado
por Griffith em sua época, quando fazia uso de tal estratégia. Sua versão
original conta com 7 minutos adicionais. Società Anonima Steffano
Pittaluga/Società Anonima Cines para Società Anonima Steffano Pittaluga. 73
minutos.
Comentários
Postar um comentário