Filme do Dia: A Idade do Ouro (1930), Luis Buñuel
A Idade do Ouro (L’Âge d'or, França,
1930). Direção: Luis Buñuel. Rot. Original: Luis Buñuel & Salvador Dalí. Fotografia: Albert Duverger.
Música: Luis Buñuel & Georges Van Parys. Montagem: Luis Buñuel. Dir. de
arte: Pierre Schild. Com: Gaston Modot, Lya Lys, Caridad de Laberdesque, Max
Ernst, Josep Llorens Artigas, Lionel Salem, Germaine Noizet
Embora nessa segunda incursão de
Buñuel pelo surrealismo no cinema (novamente com colaboração de Dali no
roteiro) uma certa continuidade no enredo tome proporções maiores que em Um
Cão Andaluz, o cineasta parece bem menos interessado nessa que em
detonar com algumas das convenções burguesas que particularmente abominava.
Nesse sentido, embora o filme seja uma expressão perfeita de alguns instintos
humanos mais básicos quando não recalcados, parece questionável sobrepor um
teor político sobre um tom marcadamente
idiossincrático e anarquicamente anti-humanista. Entre os personagens que são
insultados ou sofrem violência ao longo do filme encontra-se tanto um cachorro
de madame, um bispo que chega a ser jogado pela janela, uma aristocrata quanto
um filho morto sem maior motivo pelo pai e um cego. Quanto ao último, embora
possa compartilhar com os outros dessa tentativa de choque aos “bons modos”
burgueses, nada mais esclarecedor que o fato do próprio cineasta publicamente
deixar evidente sua ojeriza a eles. Mais radical em sua iconoclastia que a
produção anterior, o filme acaba apresentando algumas das imagens mais eróticas
e grotescas então vistas o que, paradoxalmente, torna-o mais datado e
esquemático. O efeito do choque ao burguês, visto retrospectivamente, de tão
utilizado ao longo do filme (e posteriormente, com resultados muitas vezes
duvidosos, por cineastas menos competentes), provoca tanto uma previsibilidade
quanto uma empatia com o público através do riso fácil. Um exemplo notório é
seqüência final que anuncia a saída de um notável devasso de dias de orgia em
um castelo e aparece um ator travestido de Cristo. Influenciado por idéias da
psicanálise e de Sade, provocou diversas polêmicas à época de seu lançamento,
tendo sido censurado em certos países, como Portugal (onde só seria liberado
após o final do governo salazarista). Parcialmente sonoro, o filme utiliza-se
de algumas curiosidades, familiares aos vanguardistas, como a execução da
trilha incidental no próprio enredo, através da apresentação de uma orquestra.
60 minutos.
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