O Dicionário Biográfico de Cinema#278: Oliver Stone

 


Oliver Stone, n. Nova York, 1946

1974: Seizure. 1981: The Hand [A Mão]. 1986: Salvador [Salvador, Martírio de um Povo]; Platoon. 1987: Wall Street [Wall Street - Poder e Cobiça]. 1988: Talk Radio [Talk Radio: Verdades que Matam]. 1989: Born on the Fourth of July [Nascido em 4 de Julho]. 1991: The Doors; JFK [JFK: A Pergunta que Não Quer Calar]. 1993: Heaven and Earth [Entre o Céu e a Terra]. 1994: Natural Born Killers [Assassinos por Natureza]. 1995: Nixon. 1997: U Turn [Reviravolta]. 1999: Any Given Sunday [Um Domingo Qualquer]. 2003: Comandante (d); Persona Non Grata (d)(*). 2004: Alexander. 2006: World Trade Center [As Torres Gêmeas]. 2008: W. 2009: South Border [Ao Sul da Fronteira] (d). 2010: Wall Street: Money Never Sleeps [Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme]. 2012: Castro in Winter (d); Savages [Selvagens]; The Untold History of the United States [A História Não Contada dos Estados Unidos] (d).

A criança de um corretor de bolsa e uma católica francesa, Stone se comporta de uma maneira bastante enégica e incansável, como alguém que acredita conter múltiplas facetas. É fácil desprezá-lo, pois pode ser bastante ruim e ingênuo. No entanto, é um exemplo de confiança ao acreditar que pode tornar ideias complexas e problemas em filmes admirados por multidões. Há pouco sentido em se ter um negócio do cinema americano popular sem esta tentativa. Naturalmente, Otto Preminger o fez trinta anos antes, com mais gosto e inteligência. Mas as falhas de Stone são parte de sua energia, e em Salvador e Platoon, esta força alcança um drama popular abrasivo. 

Mesmo então, Stone possui severos limites. Não possui senso de humor e surpreendente pouco uso para mulheres: apenas pense em Daryl Hannah em Wall Street, Meg Foster em Nascido em 4 de Julho, e Sissy Spacek em JFK. De fato, segue uma falácia perigosa que questões importantes e controversas do dia são feitas apenas para alguns homens sérios. É um pequeno consolo que tenha extraído ou provocado atuações tão boas quanto as de James Woods, Tom Berenger, Willem Dafoe, Charlie Sheen, Michael Douglas e Tom Cruise. Não se pode acrescentar Kevin Costner a esta lista, apesar de uma das poucas partes interessantes de JFK foi um vislumbre de um sombrio submundo gay, desenvolvido por Joe Pesci. 

Stone foi para bons internatos, e então desistiu de Yale. Ensinou em Saigon, trabalhou com a marinha mercante, e então se voluntariou para a Vigésima Quinta Divisão de Infantaria no Vietnã, onde ganhou uma estrela de bronze e um coração roxo. Entrou então para a New York University e teve aulas de cinema - com Scorsese como um de seus professores. Tornou-se um motorista de táxi que escrevia roteiros. 

Seu roteiro para Midnight Express [O Expresso da Meia-Noite] (78, Alan Parker) venceu o Oscar, e ele foi escrever ou co-escrever Conan the Barbarian [Conan, o Bárbaro] (82, John Milius); Scarface (83, Brian De Palma); Year of the Dragon [O Ano do Dragão] (85, Michael Cimino); Eighty Million Ways to Die [Morrer Mil Vezes] (86, Hal Ashby); e Evita (96, Alan Parker) - se você puder encontrar um roteiro. 

Nesta obra, apresentou uma rara facilidade para a desefreada arrogância masculina e situações de intenso medo. Mesmo antes de Platoon, foi fascinado pela lealdade, honra e traição masculinas, e é vítima de uma falácia atraente que vilões autoritários podem ser glamurosos. 

Como diretor, é um mestre de cerimônias do espetáculo, montagem, performance, e diálogos pungentes - mesmo na farsa JFK, a tela foi frequentemente avivada com sua habilidade. Salvador, Martírio de um Povo parecia bastante original quando foi lançado, e Platoon mereceu plenamente sua reputação como a admissão própria americana da dor a respeito do Vietnã. Além do que, possuía um comando que evocava um do Norman Mailer de The Naked and the Dead.

Nada desde então pareceu tão bom. Wall Street - Poder e Cobiça é um mostruário para Michael Douglas, mas nunca deixa claras as negociações financeiras, e assim se transforma em uma história em quadrinhos. Talk Radio: Verdades Que Matam é completamente misantrópico, e parecia que Stone havia perdido interesse e direção antes do final. Nascido em 4 de Julho foi vívido e comovente, mas Stone agora parecia não apenas imerso, mas perdido no trauma dos anos 60.

The Doors foi lamentável, a despeito da brava interpretação de Val Kilmer. JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar, na visão deste escriba, trata-se de uma irresponsabilidade insana, de um tipo que desqualifica seu autor para defender as reinvindicações da história. Eu não aprovo a Comissão Warren (**) ou possuo alguma opinião formada sobre o que aconteceu em Dallas naquele dia em novembro, mas temo este tipo de poder do cinema a serviço de uma paranóia irresponsável que nunca se sentirá aliviada ou satisfeita. Sim, o filme certamente "afetou a opinião pública" e ajudou a liberar todas os arquivos. Mas Congresso, por favor, insista que Oliver Stone seja um a lê-los e fazer uma relatório decente. Melhor esta tarefa que mais abominações como Entre o Céu e a Terra.

Em meados dos anos 90, havia sinais de que a energia de Stone estava se tornando azeda e sombria. Ele está doente, deprimido ou sobre alguma influência?  A paranóia se apossou dele? Nixon foi um filme assombrado, horrivelmente exagerado (quem precisa exagerar Nixon?), mas cheio de compaixão pela loucura e severamente prejudicado pela competição impotente de Anthony Hopkins com todas as milhas de Nixon no filme. Reviravolta foi como um sonho febril. Mas então Um Domingo Qualquer foi bobo, machista, mas impregnado de um amor pelo que os filmes podem fazer. Stone está em baixa por agora, e pode ter cavado seu próprio buraco. 

Dito tudo isso, não há razão para Alexander, enquanto W.  foi uma cópia piorada do velho Stone. Mas Platoon é ainda de uma beleza agônica. 

A História Não Contada é, na verdade, muito mais próximo do rádio, com um picadinho de visuais. Foi, por sua vez,  tendecioso, irresponsável e bastante provocativo. 

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N.York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2546-48.

N. do E: (*) Não há registro deste título no IMDB. 

N. do E: (**) como ficou conhecida a comissão que analisou a morte de Kennedy, e trouxe sua versão oficial, do assassino isolado como resultado; e contra a qual se insurge a narrativa do filme.

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