Filme do Dia: The Miracle (1912), Michel Carré & Cherry Kearton
The Miracle (Reino Unido/Alemanha,
1912). Direção: Michel Carré & Cherry Kearton. Rot. Adaptado: Joseph
Menchen, a partir da peça de Karl Vollmöller. Fotografia: H. Jeapes & W.
Jeapes. Música: Engelbert Humperdinck. Com: Florence Winston, Maria Carmi,
Ernst Matray, Douglas Pay, Ernest Benzinger, Joseph Klein, Theodore Rocholl,
Agathe Barcesque, Marie Von Radgy, Alfred König, Ernest Lubitsch.
A freira Magildis
(Winston) abandona o hábito e foge do convento com o Cavaleiro (Payne),
influenciado pela música de um menestrel (Matray) perverso. A imagem da Virgem
(Carmi), ganha vida e toma o lugar de Magildis. O casal é vítima de um grupo de
bandoleiros, que assassina o Cavaleiro e se apossa de Magildis, liderados por
um Conde (Benzinger) que simula um casamento farsesco com Magildes. Magildes é
acusada de bruxaria e se encontra em situação de miséria. O menestrel lhe faz
ver todos os que morreram por ela. Ela continua a carregar seu filho, mesmo que
esse se encontre morto. Noite de natal. Magildis retorna ao convento. A virgem
retorna ao seu local como estátua. Um milagre ocorre.
Produção que
perde bastante caso não seja observada em seu formato original, ou seja, na
tela grande de um cinema, dada a ausência de decupagem e a predominância de
planos abertos, além dos exaustivos planos-sequencias, muitos deles observando
toda a pompa ceriminonial dos ritos católicos, mas igualmente ocorrendo uma
característica prevalente à época dos filmes de perseguição, em que um plano
apenas finda após todo o elemento humano que estiver presente cruzar com a
objetiva, como é o caso do grupo de irmãs que, de duas em duas, descem os
degraus de um dos locais do convento. Tira bastante proveito de suas imagens
realizadas em locação (na Áustria), de grande efeito expressivo, poder-se-ia
dizer, expressionista – não é à toa que se trata de uma produção efetuada por
Max Reinhardt. Vai nesse sentido todo um balé gestual que acompanha os
movimentos das freiras em bando como andorinhas em momento de júbilo ou pesar
coletivo. Algo que se acompanha em outros momentos da narrativa, como o grupo
de bandidos. Muitos elementos dessa produção são incomuns ao cenário cinematográfico
da época. Primeiro, trata-se de uma co-produção, algo absolutamente incomum então.
Segundo, traz uma composição original para acompanhar suas imagens, algo que
somente se tornaria comum na década seguinte e fundamental para multiplicar
ainda mais o seu efeito operístico. Se a trajetória-via crucis de Magildis
cumpre com a habitual punição e retorno às origens sacras, não pode-se esquecer
o momento em que a freira, tentada pelo desejo, não apenas deixa-se guiar pelo
Cavaleiro, como ainda é beijada por ele diante da imagem da Virgem,
apresentando um mínimo esforço de reação, logo driblado e, espontaneamente,
despindo-se dos trajes de religiosa – a sedução é metaforizada pela música do
menestrel ou, a depender da compreensão, pode servir como “desculpa” a
justificar a fácil entrega de Magildes. Após tantos elementos fantásticos, a
chuva de pétalas de rosa comprovando o milagre final soa quase um evento de
menor monta. Destaque para o uso
bastante expressivo da profundidade de campo e do espaço cênico como um
todo. Existem quatro outras versões,
talvez a mais lembrada hoje,mais de um século após o lançamento dessa, seja a dirigida por Gordon Douglas e Irving
Rapper, em 1959. Destaque para uma discreta presença de Lubitsch, realizador de destaque na Alemanha e Hollywood posteriormente. Continental Kunstfilm
GmbH. 63 minutos.
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