Filme do Dia: Wittgenstein (1993), Derek Jarman

 


Wittgenstein (Reino Unido, 1993). Direção: Derek Jarman. Rot. Original: Derek Jarman, Ken Butler & Terry Eagleton. Fotografia: James Welland. Música: Jan Latham-Koenig. Montagem: Budge Tremlett. Dir. de arte: Annie La Paz. Figurinos: Sandy Powell. Com: Karl Johnson, Michael Gough, Kevin Collins, Tilda Swinton, Clancy Chassay,  Nabil Shaban, John Quentin,Lynn Seymour ,  Jan Latham-Koenig, Layla Alexander Garrett.

Não se esperaria de Jarman uma cinebiografia convencional de seu retratado e não é o que de fato ele faz, investindo muito mais no universo das ideias que norteavam o pensamento do célebre filósofo, assim como eventos biográficos que incluem sua passagem como professor de crianças na província, a jardinagem e suas relações pessoais com algumas das celebridades britânicas do universo que rondava a academia como John Maynard Keynes (Quentin) e Bertrand Russell (Gough), assim como sua relação semi-platônica com um estudante chamado Johnny (Collins), também amante de Keynes. A partir de sketches sob um fundo predominantemente escuro, alternam-se a figura de um Wittgenstein ainda criança (Chassay) com outro adulto, na maravilhosa interpretação de Johnson, que empresta a sua máscara facial toda a tensão algo alucinada de seu personagem.  A cenografia escura e o fato de ter sido rodado exclusivamente em estúdio (a determinado momento, chega-se a se fazer uma referência ao “estúdio em Waterloo” que pode ser considerado como crível mas não o garoto ser Wittgenstein) acabam realçando ainda mais a essência buscada, de operar com as ideias, então quase que completamente incompreendidas, do filósofo. Jarman consegue aqui um delicado equilíbrio nem sempre bem conseguido em suas produções, longe de enfadonho, didático ou professoral, mas sem utilizar do personagem apenas como pretexto para o histrionismo ou a militância homossexual (como ocorre em Eduardo II); quesito o qual a participação de Terry Eagleton, renomado acadêmico na área de estética, no roteiro deve ter contribuído grandemente. Chega a ser bem recatado em termos de visualidade (quando se compara a experimentações como The Angelic Conversation ou Blue). Apenas ao final há um comentário que parece, de fato, aproximar-se mais de Jarman que propriamente de Wittgenstein, quando, em seu leito de morte, ouve de um interlocutor que seu pensamento é demasiado racional para incorporar os atritos efetivos de sua relação com a vida. BFI Production/Bandung Prod./Channel Four Films/Uplink Co. 72 minutos.

 

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