Filme do Dia: Sabor da Vida (2015), Naomi Kawase

 


Sabor da Vida (Na, Japão, 2015). Direção: Naomi Kawase. Rot. Adaptado: Naomi Kawase,  partir do romance de Durian Sukegawa. Fotografia: Shigeki Akiyama. Música: David Hadjadj. Montagem: Tina Baz. Com: Kirin Kiki, Masatoshi Nagase, Kyara Uchida, Miyoko Asada, Etsuko Ichihara.

Tokue (Kiki) é uma velha e algo excêntrica senhora que oferece seus serviços da geleia de feijão que prepara, pois afirma que a panqueca vendida por Sentaro (Nagase) é saborosa, mas seu recheio deixa a desejar. Dias depois Tokue passa novamente no comércio de Sentaro e deixa sua geleia de feijão para que esse prove. Ele a acha deliciosa. Da próxima vez que ela anda por lá, convida-a para trabalhar consigo. Quem também fica próxima de Sentaro é a jovem estudante Wakana (Uchida), decidida a abandonar os estudos para trabalhar com ele.  O sucesso da geleia de Tokue é imediato, aumentando as vendas. Tempos depois, no entanto, Tokue decide não mais aparecer. Sentaro e Wakana a visitam no local em que vive. Wakana havia pesquisado sobre portadores e ex-portadores de hanseníase como Tokue. Tempos depois, quando a visitam novamente, descobrem através de uma amiga sua também portadora da doença, Yoshiko (Ichihara), que Tokue havia morrido há apenas 3 dias. Ela deixou uma gravação na qual se dirige pessoalmente tanto a Sentaro como a Wakana.

Parecendo ter perdido o senso de orientação de uma proposta mais pessoal e ousada de seus primeiros longas ficcionais (a exemplo de Shara), Kawase se aproxima de um terreno mais comodamente demarcado em termos de estratégias narrativo-estilísticas. O resultado, infelizmente, é decepcionantemente banal, como já o havia sido O Segredo das Águas, em sua pretensa profundidade de pacotilha, não muito distante de uma filosofia de auto-ajuda no qual figuras mais velhas representam a sabedoria, pois curtidas  e depuradas pela dor. E, a partir de tais princípios elevados, prefere-se personagens que parecem meras abstrações que propriamente de carne-e-osso e o sentimentalismo fácil como saídas para a ausência de um verdadeiro talento criativo, fazendo inclusive o esperado redundante e fácil da morte como mais uma pretensão de manipulação emocional do espectador. Tokue, a quem havia sido negado o direito de ter um filho, evoca na gravação que deixou um filho quando se aproximava da morte, e que Sentaro teria o equivalente a idade do mesmo. O pathos da dor dos dois personagens (sendo que Wakana foi vivida por uma neta de Kiki) se transformando em um patético quase involuntariamente cômico. Ou ainda o momento final, de “superação” de Sentaro diante das adversidades recém-sofridas – não apenas com a morte de Tokue, mas com a desfiguração (e aparente saída) de seu emprego, vendendo pasteis em um parque. É muito pouco diante do que o talento de Kawase sinalizava em suas obras mais ousadas.Comme des Cinémas/Kumie/Mam/NBN/Twenty Twenty Vision Filmproduktion GmbH. 113 minutos.

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