Filme do Dia: Como Agarrar um Milionário (1953), Jean Negulesco
Como Agarrar um
Milionário (How to Marry a Millionaire,
EUA, 1953). Direção: Jean Negulesco. Rot. Adaptado: Nunally Johnson, a partir
de peças de Zoe Akins, Dale Euson & Katherine Alberts. Fotografia: Joseph
MacDonald. Música: Cyril J. Mockridge. Montagem: Louis R. Loeffler. Dir. de
arte: Leland Fueller & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Stuar A. Reiss &
Walter M. Scott. Figurinos: Travilla. Com: Betty Grable, Lauren Bacall, Marilyn
Monroe, David Wayne, Rory Calhoun, Cameron Mitchell, Alexander d’Arcy, Fred
Clark, William Powell.
Três
casadoiras passam a morar juntas em apartamento de luxo alugado por uma delas
em área nobre de Nova York, Schatze (Bacall). Tanto ela, como Loco (Grable) e
Pola (Monroe) sonham em casar com homens ricos. Schatze se enamora do ricaço
J.D. Hanley (Powell), mas se sente atraída mesmo é pelo “pobretão” Tom Brookman
(Mitchell). Loco viaja com um homem casado (e rico) ao Maine, mas se descobre
apaixonada mesmo é pelo guarda florestal que faz às vezes de motorista ao
ricaço, Eben Salem (Calhoun). Já Pola se engraça com o próprio dono do
apartamento do qual Schatze ocasionalmente se desfaz dos móveis para pagar as
contas, Freddie Denmark (Wayne).
Inicia com
uma inusitada peça musical que parece derivativa de alguns temas da já então
clássica Rhapsody in Blue de sua
própria trilha sonora sendo apresentada pela orquestra do estúdio e se
prolongando por mais de cinco minutos de filme, antes que os créditos surjam, e
são uma exibição da primeira trilha
gravada em som estereofônico – trata-se também do primeiro filme rodado em
processo Cinemascope, ainda que lançado após O Manto Sagrado. Destaque para a referência “aos diamantes serem os
melhores amigos de uma garota” da canção e de uma das cenas mais icônicas de
Monroe, de seu filme imediatamente anterior, Os Homens Preferem as Louras, logo quando sua Pola adentra em
trajes de banho o desfile particular para um milionário. Outra private
joke sai dos lábios de Bacall quando enumera ao seu pretendente bem mais
velho uma pequena lista de homens de mais idade que admira e se refere aquele
“velho chapa” de Uma Aventura na África,
que vinha a ser ninguém menos que Humphrey Bogart, com quem se encontrava
casada e que também tinham uma grande diferença de idade. E, completando a
tríade de referências pessoais ou profissionais, Grable afirma saber que a
música que toca no rádio é executada por Henry James, com quem era casada
então, embora o locutor posteriormente a desminta. Ainda que Grable tivesse já
no outono de seu estrelato – participaria de somente mais dois filmes – tem protagonismo,
em termos de presença na tela e desenvolvimento de seu imbróglio que estrelas
mais recentes como Bacall e, sobretudo, supernovas como Monroe. A forma
demasiado prática com que Bacall se entrega aos braços do homem mais velho apenas para trazer de volta os
móveis de seu apartamento podem soar quase como uma caricatura misógina do
interesse feminino ou, por outra via, como uma estratégia de sobrevivência em
que sentimento e sinceridade ficam em segundo plano. Embora as ambições sejam
econômicas, o corte divisório finda por ser geracional, com as três escolhendo
casar com homens jovens, independente de sua condição social, e o velho
milionário cedendo sua vez de forma bastante conformada ao jovem ricaço. Em
última instância, uma comédia sem brilho e nem de longe a vitalidade das
melhores cenas do filme que lançara Monroe ao estrelato dirigido por Hawks no
mesmo ano. 20th Century Fox. 95 minutos.
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