Filme do Dia: Os Dragões da Morte (1933), Stuart Walker
Os Dragões da Morte
(The Eagle and the Hawk, EUA, 1933).
Direção: Stuart Walker. Rot. Adaptado: Seton I. Miller & Bogart Rogers, a
partir do conto de John Monk Saunders. Fotografia: Harry Fischbeck. Música:
John Leipold. Montagem: James Smith. Dir. de arte: Robert Odell. Figurinos:
Travis Banton. Com: Fredric March, Cary Grant, Jack Oakie, Carole Lombard, Guy Standing, Forrest Harvey, Kenneth
Howell, Leyland Hogdson.
Sensível às
mortes que se sucedem dos artilheiros que voam com ele, o exímio piloto do
exército norte-americano em combate na I Guerra Mundial Young (March), percebe
subitamente que o próximo a ser escalado para o posto é ninguém menos que seu
melhor amigo, Henry Crocker (Grant).
O mal estar
que acompanha Young, inclusive em servir como modelo e fomentador dos jovens
recém-chegados ao cenário de guerra, parece se objetificar ao observar com
Crocker um dos garotos que havia feito um discurso improvisado sob pressão do
general, morto após um ataque aéreo inimigo. A cena toda, evidentemente, não
possui outra função qual constatar, como o próprio Young afirma, que alguém
provavelmente ganhará alguma medalha pelo que fez. Que a única figura feminina
de maior destaque seja um tanto acessória é fácil de se observar quando Lombard
surge aos 45 minutos do filme, com sua personagem cujo crédito é simplesmente o
de Bela Senhora. Menos fácil de se detectar é o caráter homo-erótico que
cercaria a amizade da dupla principal que alguns apontam e que curiosamente
seria uma recorrência em filmes de aviadores como no clássico Asas e, de forma mais dissimulada, no
posterior Paraíso Infernal. Ao
menos até a cena final. Note-se, no entanto,
que o Young de March seja literalmente e sem entusiasmo levado a cair
nos braços ou na boca da grã-fina vivida por Lombard, ironicamente ela própria
morta em um acidente aéreo. E que o companheiro pelo qual decide voar após o
desentendimento com Crocker seja Stevens, de trejeitos bastante femininos e
vivido pelo homossexual Howell, não deixa de tampouco ser curioso. Que o bobo do grupo, vivido pelo comediante
Oakie, vá servir como bucha de canhão para que um efeito de identificação seja
gerado com sua morte, poucos duvidam, já que dos cinco que faleceram
trabalhando com Young pouco guardamos e até mesmo o próprio Mike de Oakie esquece o nome de um deles.
Mais surpreendente e talvez positivo que tudo o comentado até aqui é o
inusitado protagonismo de um herói que questiona a todo momento o heroísmo e a
guerra, assim como suas façanhas, ao ponto de pagar com sua própria vida por
sua tormenta. Que Crocker forje o heroísmo do colega parece ser uma traição
perversa com o próprio sentido da ação cometida por ele, algo que aparentemente
se deveu a intervenção do estúdio, que eliminou o epílogo em que ele se
arrependia ferozmente de ter cometido tal ato.
Comparado a Asas, de meia
década antes, os planos mais aproximados dos pilotos em seus vôos são risíveis,
em sua evidente recriação, algo tosca, em estúdio. Ao mesmo tempo, suas imagens dos alemães
vitimados pelos heróis são surpreendentemente chocantes em sua descrição
gráfica da morte, mesmo podendo se perceber não ser nada muito semelhante a um
corpo humano, para um filme hollywoodiano (ou mesmo de qualquer outra
nacionalidade) de sua época. Paramount Pictures. 73 minutos.
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