Filme do Dia: Mulheres e Luzes (1950), Federico Fellini & Alberto Lattuada
Mulheres e Luzes (Luci del varietà, Itália, 1950). Direção: Federico Fellini &
Alberto Lattuada. Rot. Original: Federico Fellini, Ennio Flaiano, Alberto
Lattuada & Tullio Pinelli. Fotografia: Otello Martelli. Música: Felice Lattuada.
Montagem: Mario Bonotti. Com: Peppino De Filippo, Carla Del Poggio, Giulietta
Masina, Giacomo Furia, Dante Maggio, Gina Mascetti, John Kitzmiller, Folco
Lulli, Carlo Romano, Vanja Orico.
Liliana Antonelli (Del Poggio)
entusiasma-se com uma trupe de artistas mambembes que assiste em sua pequena
cidade e resolve segui-los, forçando seu ingresso no grupo. O líder da trupe é
Checco Dal Monte (De Filippo), que vê os parcos atributos artísticos dele
próprio, de sua esposa Melina (Masina) e de seu grupo serem obscurecidos pela
beleza física de Liliana, que torna-se o motivo de seguidas apresentações
lotadas. O rico advogado Enzo La Rosa (Romano), atraído pela dançarina, convida
toda a trupe para hospedar-se em sua mansão. Porém a festa acaba quando Checco
interrompe o assédio do advogado. Novamente em má situação, o grupo parte sem
destino certo. Liliana e Checco afastam-se do grupo e tentam a sorte no mundo
dos espetáculos de primeira qualidade. Checco leva Liliana a uma boate
sofisticada, onde ela atrai atenções de Adelmo Conti (Lulli), empresário do
teatro de revistas. Porém enquanto Adelmo sai com Liliana, Checco, expulso de
sua pensão por não pagar o aluguel, vaga pelas ruas e encontra um trio de
artistas, em situação tão desfavorável
quanto a dele, para montar um novo espetáculo: o trompetista negro Johnny
(Kitzmiller), uma cigana brasileira e um atirador italiano. Para finaciar o seu
novo projeto, que terá Liliana como vedete,
ele vai atrás dos velhos companheiros de estrada, que o destratam. Resta
Melina que, sentimental, entrega-lhe parte de suas economias. Enquanto os
ensaios com a amadora companhia se desenrolam, Liliana confessa a Checco que
seguirá carreira no mundo do teatro de revista, onde ganha destaque já a partir
de sua estréia, ofuscando a própria estrela. Com o fracasso de sua nova
investida, Checco reaproxima-se de Melina e seu grupo e, na estação ferroviária,
é notado por Liliana que parte em outro trem.
Essa produção embora tenha sido
co-dirigida com Lattuada, já apresenta um tema que seria recorrente na
filmografia de Fellini: os bastidores do universo de artistas populares de
modesto sucesso (caso de Ginger&Fred
e, principalmente, A Estrada da Vida).
Seu tom agridoce, entre o cruel e o terno, sentimental e profundamente
apaixonado por seus personagens marginalizados, seria constante nesse primeiro
momento de sua carreira, tendo no quixotesco de
tipos clownescos sua maior expressão (por exemplo, em A Trapaça e Noites de Cabíria).O elemento chapliniano da estrada é utilizado
como invocação de um futuro incerto (como em A Estrada da Vida e Noites de Cabíria), na seqüência em que são abandonados pelo advogado.
Provavelmente influenciado pela vertente mais sentimental do Neorrealismo, que
teve como maior expoente De Sica, o filme possui um vigor que em grande parte
provém da afinação dos intérpretes principais e coadjuvantes (entre elas a bela
participação da então popular no Brasil Orico, que atuaria em O Cangaceiro alguns anos depois), assim
como da ambigüidade da protagonista feminina, uma sutil combinação de anjo e
prostituta. A voracidade com que o grupo devora o jantar oferecido pelo
advogado antecipa o mais explicitamente anárquico banquete dos mendigos de Viridiana (1961), de Buñuel. O final apresenta a distinta qualidade dos
trens – um popular, outro luxuoso - e o sentido inverso em que partem como uma
óbvia, mas nem por isso menos poética, metáfora para a diferença social que se
interpõe entre aqueles que um dia compartilharam objetivos comuns de ascensão
ao estrelato; motivo que seria reelaborado, em seu cinema moderno, e de forma
pouco realista, no prólogo de 8 e ½.
Inspirado em experiências pessoais do ator Aldo Fabrizzi. Capitolium . 93
minutos.
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