O Dicionário Biográfico de Cinema#19: Marcel Ophüls

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Marcel Ophüls
n. Frankfurt, Alemanha, 1927

1962: o episódio de Munique para L'Amour à Vingt Ans [O Amor aos 20]. 1963: Peau de Bananes. 1965: Feu à Volanté. 1967: Münich (d). 1969: Le Chagrin et la Pitié [A Dor e a Piedade] (d). 1972: A Sense of Loss (d). 1975: The Memory of Justice (d). 1980: Kortner Geschichte (d). 1988: Hôtel Terminus: Klaus Barbie, His Life and Times (d). 1992: November Days (d). 1994: Veillées d'Armes (d).

A vida itinerante que  Marcel Ophüls levou quando criança certamente afetou a orientação política da maior parte de seus documentários. O objetivo principal  é a confidência nacionalista, e os crimes realizados em seu nome. Sua óbvia, mas endurecida e decente mensagem é pela responsabilidade individual que resistirá à onda de justiça, especialmente quando essa própria se autodenomina destino manifesto. Nenhuma fidelidade ideológica pessoal é apresentada na obra de Ophüls. Seus filmes possuem o tom obstinado e a densidade da auto-análise de um advogado. Floreios estilísticos e manobras retóricas nunca ocorrem para a consciência seca que os produz. No entanto, é crédito de Marcel, que reverencie seu pai (Max) e aspire um dia a fazer filmes como Madame de... e Lola Montès. Pai e filho não parecem artistas próximos, mas ambos sabem o quão obstinadas as pessoas podem ser, assim como as pedras de toque implacáveis do tempo, da morte e das recordações. Marcel é o mais memorável documentarista por conta de seu comprometimento em observar imparcialmente, mas com simpatia; ele não está tão longe da diversão indefesa do mestre de cerimônias em La Ronde [A Ronda].

Assim, as próprias comédias de Marcel - Peaux de Bananes e Feu à Volanté - não transformam a supremacia da arte de seu pai. O desejo do filho de ser mais leve pode ser o consciencioso se resguardando da gravidade. Ele disse que suas investigações sobre algumas das feridas da história moderna eram meras atribuições. Penso que seja engenhoso quando os filmes efetuam tais demandas sobre suas plateias e tragam tantos problemas para seu realizador. Deixemos Marcel seguir seu próprio caminho e admitir um senso de dever; existem temas amplos em seu caminho, merecendo sua atenção.

Ele foi com seu pai para a França em 1933, e então para os Estados Unidos em 1941, quando a sobrevivência dos judeus se tornou mais ameaçada. E assim como domina diversas línguas e compreende muitas inseguranças nacionais, Ophüls é feliz em inglês e atraiu a cultura americana. Ele frequentou o colegial da Hollywood High School e serviu entre 1945 e 1947 ao exército americano no Oriente Médio. Desistiu da Sorbonne quando não foi aceita sua proposta de tese de doutorado - sobre os vínculos entre a moda e a filosofia - e, nos anos 70, uma breve temporada na CBS terminou quando a estação lhe propôs a realização de um programa convencional sobre o Macarthismo mais que um ensaio intitulado "Fred Astaire e a Ética do Trabalho Protestante."

Enquanto adolescente surgiu em Prelude to War [Prelúdio de uma Guerra] (42), de Frank Capra e nos anos 50 foi assistente de John Huston em Moulin Rouge (53) e de seu pai em Lola Montès (55). Trabalhou para uma estação de tv alemã e passou ao cinema no final do rastro da Nouvelle Vague, juntando-se a ORTF em 1967 para realizar um documentário de 32 horas sobre a crise de Munique em 1938, fazendo uso de imagens de arquivo e entrevistas com participantes. Este tem sido sempre seu método, com o objetivo de criar uma intricada teia de opiniões contrárias ou não resolvidas que lentamente se voltam para um argumento histórico e fundamentos para um compromisso racional e judicial. O senso visual não é forte nem cultivado: a influência dos programas de TV aparece aqui. Repetidamente, precisa-se ouvir as visualizações e testar os depoimentos mais que apreciar uma pessoa exposta. Isso pode apresentar uma ausência de talento, uma proibição do melodrama ou completo cuidado investigativo. Também pertence ao pensamento de que é mais seguro gostar das pessoas que confiar nelas - uma conclusão implícita dos filmes de Max e uma atitude suficientemente cautelosa para qualquer realizador dissolver os limites entre fato e ficção. Serve para fazer da duração dos filmes de Marcel um obstáculo considerável - prova de dignidade ou plenitude necessária? Uma conclusão de seus melhores filmes é que os tópicos que escolheu demandam o tratamento de um livro, e que é arriscado dar alguma dica na determinação do filme de que uma solução é possível.

A Dor e a Piedade lida com a ocupação alemã da França e a variedade de reações morais dos franceses; A Sense of Loss com o problema irlandês; e The Memory of Justice com a prática e filosofia dos crimes de guerra e retribuição. O primeiro é de longe o melhor porque é um retrato tão intrigante da hipocrisia e comprometimento cotidianos - temas soberbos para o cinema, desde que a face séria não consiga esconder completamente sua duplicidade. A Sense of Loss parece ser a certeza última de tudo serem os fatos históricos, e muito mais vulnerável ao estridente apelo das partes interessadas. Ao ponto que é o mais parcial de seus filmes, e também o mais fraco e mais aberto a ser contestado. The Memory of Justice é um ensaio rico e elaborado que tropeça na tentativa de encontrar um padrão coerente em diferentes crimes de guerra - sobretudo dos alemães e japoneses entre 1939 e 1945 e dos americanos no Vietnã. Seriedade facilmente aparenta didatismo, e Ophüls é consciente de como o cinema pode prontamente distorcer ideais e resistir aos fatos. Ele pode ser vítima das dimensões e intratabilidade do tema e da escassa base humana ao qual se refere. O sabor local de A Dor e a Piedade é seu maior trunfo, assim como o filme é mais tocante por conta de não deixar uma questão impossível para o espectador responder. O filme francês nos faz compreender como podíamos nos ter comportado dia após dia, mas The Memory of Justice nos confronta com um dilema tão grande que é mais fácil permanecer acordado. O filme registra a superfície e os momentos tão avidamente para que seja de grande ajuda na formação. Você acompanha o filme ou se inclina para sua sugestão; você não assume a certeza de um juiz.

Hotel Terminus foi melhor do que qualquer coisa que havia realizado antes - rico, complexo, humano, misterioso e determinadamente calmo. Foi também na França outra vez, um país cujas mentiras e verdades Ophüls acha especialmente intrigante. Nos documentários de Ophüls, o cinema tem demonstrado sua habilidade de contribuir para uma causa maior da história que deixa em questão até os melhores filmes ficcionais de guerra - assim como a trituração diária das notícias da TV.

Seu filme mais recente é uma análise do processo jornalístico em Sarajevo e na Iuguslávia, não tão atrativo quanto seu melhor trabalho, mas mais cheio de dor imediata.

Texto: Thomson, David. The Biogrphical Dictionary of Film. Londres; Knopf, 2010, pp. 7306-7316.

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