Filme do Dia: O Grande Prêmio (1975), Ivo Caprino


O Grande Prêmio de Flaklypa - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 1
O Grande Prêmio (Flaklypa Grand Prix, Noruega, 1975). Direção: Ivo Caprino. Rot. Original: Kjell Aukrust, Remo Caprino, Kjell Syversen & Ivo Caprino, a partir de personagens e universo criados por Kjell Aukrust. Música: Bent Fabricius-Bjerre. Montagem: Ivo Caprino. Cenografia: Bjarne Sandemose.
Na bucólica Flaklypa, cientista excêntrico, Reodor Felgen, munido de dois assistentes, um pássaro da manhã otimista e Ludvig, pessimista e medroso, dão-se conta que um dos projetos dele foi surrupiado por um ex-assistente seu, ganhando destaque na mídia. Inconformado com a situação, o pássaro da manhã descobre que um xeique se encontra de passagem pela região e deixa pistas do talento de Felgen. O xeique morde a isca e logo Felgen terá quem o patrocine para um protótipo de um carro envenenado, que competirá no Grande Prêmio de Flaklypa.
Esse que é o único longa-metragem e último projeto de Caprino demonstra que os contrastes que o permeiam é que são seu charme. Contraste, por exemplo, entre tiradas irônicas associadas ao mundo real em contraposição a saídas francamente infantis, como a falta de necessidade de se justificar a súbita organização de um grande prêmio em uma região tão remota do país. Ou também entre o exotismo de seus personagens e as facilidades do universo de fantasia – a aproximação justamente em um momento necessário, de um xeque milionário – com colorações que se aproximam ironicamente do mundo histórico contemporâneo – o choque do petróleo vivenciado pouco antes, provavelmente durante a produção do filme, portanto torna-se de um xeique vinculado a OPEP – são o grande trunfo de um filme que, se não chega a cumprir plenamente a promessa que desperta ao início, deixa sua marca no universo do gênero. Marca essa associada igualmente a um senso de ritmo muito peculiar, distante dos eventos que se sucedem freneticamente e, ao mesmo tempo, criando situações de suspense que surpreendentemente são resolvidas de forma distante da violência habitual esperada, como se trata do caso do aparente confronto que haverá entre o cientista e seu rival vilanesco e sem caráter. Não fossem as esporádicas alusões a eventos da época,  esse filme teria dificuldade de ser identificado temporalmente, tal a criatividade na elaboração de seu pitoresco, mas nunca irrealista, mundo centrado na colina solitária onde mora nosso herói. Tampouco escapa de Caprino referências ao próprio meio, na figura de seu cinegrafista montado em sua bicicleta que inaugura a narrativa. Sua trilha musical não deixa esquecer o caráter algo farsesco de tudo, ainda que momentos como o da reprodução da noite estrelada e solitária a circundar um melancólico inventor ao início sugerissem para algo além nessa animação de bonecos em stop motion. Algumas soluções visuais-narrativas, como o momento clímax da própria corrida são, por exemplo, decepcionantemente convencionais e sem o toque de sutil mordacidade e ao mesmo tempo ternura com que o filme observa as autoridades da província saudarem o lançamento do veículo de Felgen. Um dos filmes mais populares da história de seu país, seus personagens ressurgiram em curtas produzidos décadas após, inclusive após a morte de seu realizador que chegou, ele próprio, a construir de fato um carro similar ao descrito no filme. Caprino Filmcenter a/s. 88 minutos.


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